Os desafios da inovação
no campo universitário

31/08/2012 - 09:00

O reitor Fernando Ferreira Costa

Atrair as melhores cabeças é o maior desafio da inovação no campo universitário. Fernando Ferreira Costa, reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que o intercâmbio de alunos, pesquisadores e professores com escolas de fora do Brasil é um caminho eficiente para a ampliação do volume e da qualidade das pesquisas. “Qualquer universidade que queira produzir conhecimento e educar de maneira semelhante ao que se faz nas boas universidades do mundo tem que ter um intercâmbio muito intenso.” 

“Poder mandar nossos estudantes para conhecer outros ambientes dá uma visão crítica importante à educação dos alunos, favorece a produção de conhecimento de qualidade e isso leva à inovação”, afirmou o acadêmico, que participou do seminário “Inovação e a Competitividade Brasileira”, realizado pela Amcham-São Paulo na última quinta-feira (16/08).  

Ele concorda que, quando se pensa em pesquisa e inovação, os primeiros locais que vêm à cabeça são os laboratórios de grandes universidades. O ambiente é propício para o desenvolvimento de novas ideias, mas as empresas também têm obrigação de buscar suas próprias saídas. “Uma crítica recorrente é de que universidades produzem ciência, mas isso não se traduz em inovação. A culpa não é só das universidades”, opina. 

Para Costa, a academia tem o papel tanto de desenvolver estudos cujos resultados têm aplicação imediata quanto outros que aparentemente não têm aplicação no curto prazo, mas são de onde saem mudanças significativas no futuro. “A Unicamp, por exemplo, se preocupa em ter dentro das suas faculdades estudantes organizados em empresas juniores que colaborem com empresas em problemas reais e concretos. É fundamental essa parceria para o trabalho da universidade, que é educar pessoas, produzir pesquisa e estender essa produção para a sociedade.”  

Leia os principais trechos da entrevista com Fernando Ferreira Costa: 

Amcham: Por que é importante a parceria entre universidades e empresas quando o assunto é inovação e competitividade?
Fernando Ferreira Costa: É importante por vários motivos. Esse tipo de cooperação contribui de maneira significativa para a educação, para transformar pessoas em futuros inovadores que trabalharão nas empresas. Ela também contribui para a pesquisa que é feita na universidade para que possa ter um desenvolvimento aplicado. E ainda contribui com a participação dos estudantes em alguns aspectos da realidade das empresas. A Unicamp, por exemplo, se preocupa em ter dentro das suas faculdades estudantes organizados em empresas juniores que colaborem com empresas em problemas reais e concretos. É fundamental essa parceria para o trabalho da universidade, que é educar pessoas, produzir pesquisa e estender essa produção para a sociedade.

Amcham: Qual é a previsão de crescimento dessas pesquisas da Unicamp, tendo em vista que ela já é pioneira em inovação?
Fernando Ferreira Costa: Vamos incrementar ainda mais. Neste ano, em cooperação com o governo do Estado de São Paulo, estamos abrigando um parque científico e tecnológico no interior do campus para que empresas tenham seu laboratório de pesquisa em colaboração universitária. A ideia é que elas contem com a participação de estudantes de graduação e pós-graduação para resolver seus problemas reais e específicos de mercado. Isso é comum em quase todas as grandes universidades do mundo, e a Unicamp está se preocupando em melhorar essa interação. Somos uma universidade que se preocupa com pesquisa de qualidade e cooperação com empresas. No Brasil, a Unicamp só produz menos patentes do que a Petrobras. Há mais de 230 empresas que se originaram da universidade, produzindo mais de 9000 empregos e empreendedorismo. 

Amcham: O Brasil está buscando se internacionalizar em termos educacionais, promovendo programas como o Ciência Sem Fronteiras. Ainda assim, o país fica atrás de muitos outros quando o assunto é inovação. Como o sr. avalia esta questão?
Fernando Ferreira Costa: Qualquer universidade que queira produzir conhecimento e educar de maneira semelhante ao que se faz nas boas universidades do mundo tem que ter um intercâmbio muito intenso. Não só intercâmbio de alunos de graduação ou de pós, mas também de pesquisadores e professores, e esse intercâmbio não pode ser restringir somente a visitas temporárias, mas deveria visar a atrair professores estrangeiros. Seria ideal poder trazer estudantes de fora e permitir que eles façam seu doutorado e sua pesquisa aqui. E, claro, é importante podermos mandar nossos estudantes para conhecer outros ambientes. Isso dá uma visão crítica importante à educação dos alunos, favorece a produção de conhecimento de qualidade e isso leva á inovação. 

Amcham: Qual a mensagem que fica para empresas e universidades nesta questão da competitividade?
Fernando Ferreira Costa: Uma crítica recorrente diz que as universidades produzem ciência, mas isso não se traduz em inovação. A culpa não é só das universidades. Elas têm, sim, que fazer pesquisa que possa ter aplicação imediata. Mas é das que aparentemente não têm aplicação imediata que saem as mudanças mais significativas. Vejo que já há algum tempo o Brasil todo, tanto órgãos governamentais quanto universidades e empresas, vem se preocupando com o aspecto de produzir inovação de maneira competitiva. Sem isso, não há progresso com produção de riqueza e diminuição da desigualdade. A discussão de como obter isso de maneira rápida é função de eventos como este [seminário de Inovação e a Competitividade do Brasil], que é onde começam a aparecer propostas que servirão de políticas de estado.