Joly,
direto da
Rio+20:
Chance
perdida

14/06/2012 - 09:50

Por Carlos Joly

Começou esta quarta-feira (13), no Riocentro, a última reunião preparatória (PrepCon) da RIO+20. Nos próximos três dias as delegações de quase duas centenas de países estarão debruçadas sobre o Documento Final da Rio+20, que será finalmente aprovado pelos chefes de estado no período de 20 a 22 de junho, definindo a estratégia que pautará o “desenvolvimento” do planeta nos próximos 20 anos.

Será, na minha opinião, um documento anódino, com pouca ou nenhuma contribuição substantiva para a solução da gigantesca crise ambiental que nós, seres humanos e sociedades, criamos. Não é preciso ter bola de cristal para “adivinhar” que, se após 3 PrepCons na sede da ONU em Nova Iorque, os países sequer conseguiram aprovar os princípios aprovados há 20 anos na Eco92 (como é o caso de responsabilidades comuns porém diferenciadas - Principio 7 da Rio Declaration on Environment and Development - que os países desenvolvidos, liderados por Estados Unidos, Canadá, Japão e alguns países Europeus, relutam em reafirmar) não é em três dias aqui no Rio que teremos avanços significativos.

Até mesmo o tema central da conferência, Economia Verde ou Economia Verde Inclusiva, está se transformando rapidamente em um novo jargão, vazio em conteúdo. Graças ao gigantesco salto que demos na capacidade de comunicação – na Eco92 os celulares eram “tijolões” de baixíssima conectividade, não tínhamos Internet e muito menos redes sociais – este novo jargão propagou-se milhares de vezes mais rápido que o conceito de desenvolvimento sustentável. Mas, ao contrário daquele que tem aspectos conceituais profundos, Economia Verde tenta reforçar o pilar econômico da sustentabilidade, esquecendo que seu pilar ambiental é condição sine qua non, como fica claro na conclusão do Workshop organizado pelos três programas ambientais da Fapesp (Biota, Bioen e Mudanças Climáticas) publicado na Biota Neotropica.

A discussão relativa a governança da questão ambiental – fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/PNUMA ou criar uma Agência/Conselho de Desenvolvimento Sustentável na ONU – me parece apenas um rearranjo de mesas e cadeiras no Salão de Festas do Titanic. O que precisamos, na minha opinião, é de uma Organização Mundial do Meio Ambiente, aos moldes da Organização Mundial do Comércio/OMC, com poderes de impor penalidades e de arbitrar conflitos. Mas isso, dizem, é inaceitável porque interfere com a soberania nacional dos países.

Participei da ECO 92, representando a Unicamp, da Rio+10, em Johanesburgo (2002), como membro da delegação brasileira e agora da RIO+20 como integrante do governo anfitrião. Por incrível que pareça, apesar do salto qualitativo que demos na avaliação do estado de degradação ambiental do planeta, há hoje menos vontade política de reverter este quadro do que hà 20 anos. A ausência dos governantes das principais economias do mundo - os chefes de estado dos Estados Unidos, da Alemanha, da Grã-Bretanha e do Japão não virão ao Rio - é uma clara demonstração desta falta de compromisso. Teremos mais chefes de estado do que na ECO 92, em parte porque mais de dez países foram criados nos último 20 anos, mas menos de 70% do PIB mundial estará representado por seus mandatários.

Eventos Paralelos
Há centenas de eventos paralelos a RIO+20, mas destaco aqui três, mais focados em ciência e tecnologia e que ficarão abertos até 22 de junho

1 – Exposição Biomas do Brasil – organizado pelo MCTI que começou dia 13 e vai até 22, no Armazém 4 do Píer Mauá – é uma mostra multisensorial que leva o visitante pelos seis biomas terrestres + águas costeiras, incluindo uma “imersão” na Floresta Amazônica. (https://biomasdobrasil.com/)

2 – Armazém da Popularização da Ciência - organizado pelo MCTI que começou dia 13 e vai até 22, no Armazém 4 do Píer Mauá – é um espaço com as mais variadas e dinâmicas atividades sobre ciência e tecnologia (https://www.popciencia.org.br/)

3 – Rio Climate Challenge (Rio/Clima) – organizado pela Subcomissão Rio+20 da Câmara dos Deputados na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro/FIRJAN - discutirá formas de reduzir a emissão de gases de efeito estufa diante do aquecimento global. Deverão participar do encontro representantes não oficiais de 14 países considerados grandes emissores de gases poluentes, e pode ser acompanhada ao vivo no site https://oglobo.globo.com/rio/comeca-rio-clima-com-transmissao-em-tempo-real-pelo-site-do-globo-5188581#ixzz1xi4Hkl2z

Carlos Joly é professor do Instituto de Biologia da Unicamp