‘90 anos da Semana de Arte
Moderna’ em exposição no IEL

13/06/2012 - 11:40

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Maria Eugenia Boaventura: repercussão se deve à universidade

Maria Eugenia Boaventura: repercussão se deve à universidade

Caipirinha, de Tarsila do Amaral

Caipirinha, de Tarsila do Amaral

Ilustrução de Di Cavalcanti para Martim Cererê, de Cassiano Ricardo

Ilustrução de Di Cavalcanti para Martim Cererê, de Cassiano Ricardo

A boba, de Anita Malfatti

A boba, de Anita Malfatti

Ana Llagostera, diretora da Biblioteca do IEL

Ana Llagostera, diretora da Biblioteca do IEL

Está aberta até o mês de agosto, na Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), a exposição “90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922”. Aquela semana de 13 a 17 de fevereiro ecoa até hoje como um marco na cultura brasileira, por ter levado a público o movimento que representou uma mudança de paradigma na literatura, nas artes plásticas e na música. A mostra traz primeiras edições e fac-símiles de obras publicadas a partir da década de 1920, além de pinturas, fotos e catálogos relacionados ao evento, tudo pertencente ao acervo do IEL.

“A Semana de Arte Moderna foi importante, mas pelas obras que ficaram. Na verdade, foram apenas três noites, como tantas que aconteceram na história da literatura brasileira, à exceção de obras de Anita Malfatti e leituras de alguns poemas de Mario de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade – leituras que talvez nem tenham ocorrido. Há muita lenda, não cabia tanta repercussão”, afirma a professora Maria Eugenia Boaventura, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.

Na opinião da docente da Unicamp, a Semana de Arte Moderna foi uma festa organizada para fazer um balanço do que vinha sendo produzido desde 1915 e, também, para anunciar obras e projetos que viriam nos anos seguintes a 1922. “A importância está no projeto modernista, de atualização da cultura e da arte brasileira, levada adiante com livros como ‘Pau-brasil’ e ‘Macunaíma’ e obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e outros artistas.”

Maria Eugenia Boaventura ressalta que o público poderá conferir grande parte dessas obras na mostra montada na Biblioteca do IEL. “É uma exposição simples, mas rica. Lá estão várias primeiras edições de livros lançados em 22 (que foram poucos) e nos anos seguintes: Os condenados [Oswald de Andrade], O homem e a morte [Manuel Bandeira], Pauliceia desvairada [Mario de Andrade] e outros autores, como Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo e Ronald de Carvalho.”

Também está na exposição um fac-símile da capa do primeiro número da Klaxon, revista de linguagem ousada lançada em agosto de 1922 para divulgar o movimento modernista, tendo inúmeros escritores e artistas como colaboradores. “Outro aspecto importante foi o trabalho do bibliófilo e empresário José Mindlin, que patrocinou a reedição das principais revistas do modernismo (Verde, Revista de Antropofagia e a própria Klaxon), a fim de tornar aquelas obras acessíveis ao grande público”, destaca Maria Eugenia.

A professora do IEL observa, finalmente, que muito da repercussão da Semana de Arte Moderna e do projeto modernista se deve à universidade, que se encarregou da construção crítica do movimento, sobretudo nos anos 70. “A pesquisa de diferentes universidades (sobretudo USP, Unicamp e do Rio de Janeiro), a partir de acervos preservados e anexados a essas instituições, contribuiu para a construção desta repercussão. Há muito por pesquisar e trabalhar com literatura brasileira é bom por isso. Temos, por exemplo, mais de dez biografias de Proust e o mesmo tanto de Joyce; já sobre nossos autores, tudo ainda é pobre.”