Uma obra
que renova
a História
Militar do
Mundo Antigo

13/04/2012 - 16:50

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Funari: obra que inclui autores brasileiros

Funari: obra que inclui autores brasileiros

No 1º volume, Guerras e Identidades

No 1º volume, Guerras e Identidades

História Militar do Mundo Antigo (Annablume Editora) é o livro que vai ser lançado no dia 25, às 15h30, com uma mesa de discussão formada por organizadores e autores, no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A obra é composta por três volumes – Guerras e Identidades, Guerras e Culturas, Guerras e Representações – e traz 34 artigos de especialistas nacionais e internacionais renomados, configurando-se, segundo os organizadores, como um marco na historiografia brasileira.

“A história militar é muito tradicional, mas faltava uma obra ampla relacionada à antiguidade e, principalmente, que tivesse a participação de brasileiros. Há títulos estrangeiros sobre aspectos específicos de guerras antigas, com as do Peloponeso [entre Atenas e Esparta] e do fim do Império Romano, mas nada que englobasse a antiguidade como um todo”, explica o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, professor do IFCH e um dos organizadores do livro.

Funari organizou o livro juntamente com Margarida Maria de Carvalho (docente da Unesp), Claudio Carlan (docente da Universidade Federal de Alfenas) e Érica Morais da Silva (doutora pela Unesp). Eles afirmam que “o estudo da história da guerra tem passado por grande renovação, com a inclusão de reflexões sobre as identidades sociais. O conflito armado, que caracteriza as sociedades humanas desde os primórdios, fundou-se em diferenças entre grupos humanos, na oposição entre nós e os outros”.

“A história militar é uma área muito antiga, até porque o exército é muito antigo. Podemos dizer que a própria história foi confundida durante muito tempo com a história militar, visto que relatava as grandes guerras”, observa Pedro Paulo Funari. “É uma área que possui a especificidade de centrar-se na questão do exército, no caso da antiguidade; e, nos séculos 19 e 20, no aspecto meramente técnico-militar, com ênfase em estratégias de batalhas de campo e no detalhamento dos armamentos. É um lado importante, mas apenas um lado. O que procuramos demonstrar nesses volumes é que a história militar oferece explicações que vão muito além do conflito em si.”

De acordo com o professor do IFCH, a história da guerra tem muito a ver com o desenvolvimento tecnológico, uma vez que boa parte das aplicações surgiu por necessidades militares. “Um exemplo concreto está na arquitetura. A construção de pontes pelos romanos é uma construção militar. As estradas que os mesmos romanos pavimentaram com várias camadas, sólidas até hoje, também são paradigmáticas: elas tinham a função de facilitar o deslocamento de tropas, o uso civil foi secundário.”

No aspecto político, o organizador do livro lembra que a guerra é uma manifestação de conflito por armas, mas tem causas e consequências de relação de poder entre pessoas, cidades e estados. “Estudar a história militar, portanto, significa estudar as relações de força. Em nossa época, a relação entre Estados Unidos e União Soviética foi baseada no equilíbrio de armas. Hoje em dia, os Estados Unidos são a maior potência econômica mundial, o que só tem sentido por conta de um exército, uma marinha e uma aeronáutica muito superiores aos da China.”

Funari atenta também para uma renovação na historiografia da guerra nas últimas décadas, realçando seus aspectos culturais. “A questão das identidades é fundamental. Pensamos no exército antigo como um corpo coeso, hierárquico e unitário. Mas o exército romano, principalmente, era composto por soldados de diferentes origens e de diferentes línguas, embora falassem o latim quando a serviço daquele estado – havia, por exemplo, a unidade dos batavos (da Holanda atual). Até recentemente, os britânicos tiveram no exército os ghurkas, que mantinham seus trajes originais [do Nepal e partes do norte da Índia].”

No âmbito das representações, a força militar traz muitas implicações na imagem da sociedade, como em estátuas ou moedas, conforme ilustra o historiador. “Muito da sociedade se espelha no exército. As antigas cidades gregas e romanas seguiam a topografia. Os romanos, entretanto, criaram a cidade quadriculada, em que as ruas são perpendiculares, modelo que eles difundiram por toda a Europa e que chegou à América e até a Buenos Aires. É um modelo inspirado no acampamento militar.”

Juntamente com História Militar do Mundo Antigo, Pedro Paulo Funari vai lançar seu livro, Jesus Histórico, em coautoria com o também historiador André Leonardo Chevitarese, que é docente da UFRJ.

Comentários

Trata-se de notícia auspiciosa, uma vez que em meio ao boom de pesquisas históricas acerca do Mundo Antigo faltava, em vernáculo, uma obra assim, capaz de reunir o ponto de vista dos estudiosos sobre assunto tão importante. Além disso, todos sabemos o quanto a História Antiga é negligenciada no Brasil, apesar da importância capital daquele período na formação da consciência humana. Na falta de obras tais como o "De Re Militari" de Vegecius, ou o "De Magnitudine Romana" de Justus Lipsius, um livro como foi anunciado nos proporciona, portanto, grande satisfação. Parabéns!

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