A China para o Brasil, e vice-versa

13/04/2012 - 08:40

Karnal: “O chinês continua sendo o eterno ‘outro’, desde Marco Polo”

A distância cultural entre Brasil e China, e ao mesmo tempo de proximidade econômica, foi o tema analisado pelo professor Leandro Karnal durante seminário organizado pelo Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp, na tarde desta quinta-feira, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). Em “Um espelho distante, um comércio próximo: a China para o Brasil”, o palestrante tratou de algumas linhas de força sobre aquele país no imaginário brasileiro – como meio, variantes étnicas e diferenças de cultura – para mostrar que a nova potência oriental se tornou nosso maior parceiro comercial, mas sem que isto significasse grande compreensão cultural recíproca.

“Vemos produtos chineses por todos os lados, enquanto o conhecimento da cultura oriental está desaparecendo nas pessoas”, observa Leandro Karnal, que é docente do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). “Vou tratar das transformações econômicas tanto do lado chinês como brasileiro, mas com um enfoque cultural, que é a área em que trabalho. Pretendo mostrar esta nova China, que incomoda, assusta e ao mesmo tempo seduz o mundo. E também mostrar como, apesar disso, o chinês continua sendo o eterno ‘outro’, desde Marco Polo até hoje.”

Na opinião de Karnal, em que pese o aquecimento das relações comerciais entre Brasil e China, é muito difícil derrubar esta barreira cultural. “Em primeiro lugar, porque tanto nós somos etnocêntricos, como os próprios chineses chamam seu país de Zhong-guo, o Império do Meio: um não gosta de ver o outro. E, quando vemos o outro, vemos através de preconceitos como do orientalismo, do exótico, do escorpião, do chinês que escarra na rua. Ou seja, vemos o outro pelos tópicos exóticos, o que é consequência do orientalismo do século 19.”

Leandro Karnal atua na área de história cultural na Unicamp e fez parte da organização de exposições envolvendo a China, como dos “Guerreiros de Xi’an”, no Parque do Ibirapuera, em 2003. “Não sou sinólogo no sentido estrito do termo, pois trabalho também com a América. Hoje tenho um projeto abordando as relações entre a América e o Oriente desde a época colonial, estudando personagens como Francisco Xavier, missionário que esteve na China. Estudo os grandes cursos de mercadorias, ideias e pessoas entre os dois lados.”