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Entre sons e pausas, o sonho de tocar e cantar

Em cinco anos, projeto Primeira Nota leva crianças das salas de aula aos palcos

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Alunos do projeto Primeira Nota durante ensaio


Ilustra: LPEm cinco anos, eles foram das salas de aula de música para palcos como o do Teatro Municipal Castro Mendes de Campinas. Os alunos do projeto Primeira Nota, desenvolvido pelo Instituto de Artes (IA) da Unicamp e pela Prefeitura de Campinas, têm de 6 a 14 anos, mas com empenho próprio e dos professores, estudantes e profissionais da Universidade, sabem exatamente o que fazer no espaço de concerto.

À noite, o trajeto após a aula poderia levar à mesa do jantar, ao entretenimento, ao aconchego da cama, mas o chamado da música é mais alto, e crianças como Ana Laura, Murilo e Arthur preferem o aconchego do Primeira Nota, uma escola onde a disciplina fala sobre tocar, cantar, e receber conhecimentos gerais sobre história da música, leitura musical, vida e obra de compositores, coletividade e, por que não, felicidade. “Eu me realizo tocando trombone. A música me deixou ainda mais feliz”, diz Ana Laura Cruz, aluna de trombone, integrante do coral jovem do projeto e estudante do nono ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Humberto Alencar Castelo Branco. Da mesma escola de Ana Laura, há quatro anos, Arthur Perocini realiza o sonho da percussão e enfatiza a importância de saber tocar um instrumento. “Eu só tinha a escola para fazer, agora a música entrou em minha vida e estou gostando bastante.”

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A diretora da escola, Leila Sarubbi: “Fazemos apresentação nas escolas, e alunos e professores ficam surpresos com a possibilidade de fazer música”

De acordo com a diretora da escola, Leila Sarubbi, o fato de privilegiar alunos da rede estadual e municipal de ensino não impede que, sobrando vaga, estudantes da rede particular também participem do projeto. “Hoje, temos 300 alunos e finalizamos ano passado com 360, e ainda estamos matriculando, enquanto houver vaga. A prioridade é receber alunos da rede municipal, depois estadual e, havendo vaga, alunos das particulares.” Os alunos interessados devem fazer pré-cadastro na página da prefeitura, indicar o instrumento de interesse e aguardar contato por telefone. “Fazemos apresentação nas escolas, e alunos e professores ficam surpresos com a possibilidade de fazer música. O interesse acaba crescendo em relação a isto.”

O interesse dos alunos é visível a partir do momento em que o ônibus, que percorre diferentes escolas, encosta na frente da sede do projeto, localizada na Vila Marieta, em Campinas. Partituras são rapidamente sacadas das pastas e compartilhadas para discutirem células musicais, pausas, interpretações, solfejar, tamanha é a expectativa por meia uma noite de aprendizado. A transição entre o ambiente de aprender as disciplinas tradicionais e o ambiente musical acontece de forma natural, tão logo encontram os instrumentos, emprestados pelo projeto. “Oferecemos o que chamamos de aula-laboratório, que é uma aula de teoria musical com os instrumentos na mão, eles vão aprendendo os conteúdos e já vão aplicando nos instrumentos”, acrescenta o músico e supervisor Rodrigo Rosa.

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O supervisor Rodrigo Rosa: “Eles vão aprendendo os conteúdos e já vão aplicando nos instrumentos”

Para Paulo Ronqui, professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e um dos idealizadores do projeto, a experiência no Primeira Nota não preenche somente a bagagem de alunos de ensino fundamental, mas também de alunos do Instituto de Artes que atuam como professores no projeto. “Temos 28 estagiários que são alunos de graduação no Departamento de Música, além disso, o projeto conta com três supervisores formados pela Unicamp. O trabalho envolve muitas pessoas empenhadas em promover educação musical. A cada quatro anos, cerca de 60 alunos passam pelo projeto, o que gera uma movimentação grande dentro do Departamento de Música.”

De acordo com Ronqui, é fundamental oferecer a escolares de Campinas o que é realizado de pesquisa na área de educação musical e a parceria com a Secretaria de Educação de Campinas tem sido importante para a disseminação destes conhecimentos. “É um privilégio para a Região Metropolitana de Campinas (RMC), que bebe desta fonte. Acredito que seja um dos maiores projetos em termos de educação musical que têm sido realizados em Campinas que vão ao encontro daquilo que está sendo pesquisado e disseminado em termos do saber musical.”

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Paulo Ronqui, professor do IA da Unicamp e um dos idealizadores do projeto: “Acredito que seja um dos maiores projetos em termos de educação musical que têm sido realizados em Campinas”

Por mais que a escola formal garanta a disciplina de artes, no Primeira Nota, os estudantes recebem formação específica em música e, com isso, ganha a Unicamp e toda a comunidade, na opinião do musicista formado em canto lírico pela Unicamp, Rafael Kashima, um dos supervisores do projeto. Ele explica que no Primeira Nota, além das técnicas musicais, os alunos têm contato com artes cênicas, dança e performance.

Supervisor no projeto, Leonardo Matriacardi acredita que os benefícios de aprender música são mais completos e universais que o crescimento musical e intelectual. “Eles falam melhor, são mais desinibidos depois de um tempo no projeto. Eles aprendem a se comportar. É difícil participar de um grupo de música ou de um coral sem ter várias destas questões de concentração, coletividade e coleguismo bem-resolvidas.”

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O supervisor Leonardo Matriacardi: “Eles falam melhor, são mais desinibidos depois de um tempo no projeto”

Uma mostra da compreensão de coletividade e compromisso com a música é o comportamento dos alunos do Primeira Nota nos concertos semestrais. Além de integrar todos os envolvidos, a música acolhe a comunidade por meio das famílias e do público. “Sem dúvida, todo mundo aprende música para tocar, então o palco é nosso local privilegiado, para aplicar tudo o que é realizado aqui. Sem dizer que há toda preparação psicológica de socialização e preparação musical de excelência, que, claro, é cobrado de cada aluno, mas os concertos são a nossa festa”, declara Ronqui.

Ana Laura já pensa na continuidade da formação em música, já que está no nono ano e completa 14 em 2019, mas segundo Ronqui, os coordenadores buscam formas de encaminhar alunos nesta situação a outros espaços de formação. “Nossa intenção é que o aluno frequente aqui dos 6 anos aos 14 anos de idade, vão para a Escola Livre de Música (ELM) da Unicamp, prestem o vestibular e façam os nossos cursos, quem sabe com a oportunidade de seguir o mestrado e o doutorado.”

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A aluna Ana Laura Cruz (à esq.): “Eu me realizo tocando trombone”

Um dos projetos apoiados pelo Extensão 48, o Primeira Nota é um exemplo prático de que a união ensino, pesquisa e extensão é uma ferramenta eficiente na comunicação entre a Universidade e a sociedade. “Este projeto faz muita diferença na vida das crianças. Acho que abre os horizontes. O gosto musical abre para críticas, e ela se concentra mais na escola; as notas melhoraram. Foi muito bom para ela”, afirma a funcionária pública Luciana Silva Cruz, mãe de Ana Laura. A professora Luana Freitas, mãe de dois alunos do projeto, também faz avaliação positiva tanto das aulas quanto dos concertos. “Tem sido muito importante o projeto Primeira Nota na vida de meus filhos. Na creche, minha filha assistiu à Orquestra Municipal de Campinas e manifestou o sonho de um dia tocar. Com o primeira nota, no ano passado ela pôde cantar no Teatro Castro Mendes.”

A vontade de oferecer a primeira nota permitiu a sucessão de tons, a multiplicação de células musicais, a divisão de compassos, o arranjo em várias pautas e a inclusão no universo das partituras. O resultado do sonho de Ana Laura, Murilo, Arthur, Luana, Luciana, Leonardo, Rafael, Paulo, Rodrigo, Leila vai para o palco. “A gente se arruma, a gente se apresenta...e comemora”, conclui Rafael Kashima.

Veja vídeo produzido pela Preac sobre o projeto

 

Imagem de capa JU-online
Ensaio do coro jovem conduzido pelo supervisor Rafael Kashima: contato com artes cênicas, dança e performance

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