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Grupo testa substâncias metálicas para controle de carcinoma cutâneo

Experimentos com compostos de ouro e prata apresentaram atividade antiproliferativa em células tumorais selecionadas

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Como tratar o câncer de pele, o mais comum entre os humanos? Sua incidência vem aumentando em todo o mundo, acomete principalmente pessoas de pele, olhos e cabelos claros e tem como principal causa a exposição aos raios ultravioletas emitidos pelo sol. Centrado em tumor de pele frequente, o carcinoma de células escamosas cutâneas, projeto desenvolvido pela farmacêutica Tuany Cândido tem como escopo a descoberta de fármacos de uso tópico que possibilitem o controle desse tumor.

A pesquisa é orientada pela médica Carmen Silvia Passos Lima, coordenadora do Laboratório de Genética do Câncer e professora da disciplina de Oncologia Clínica do Departamento de Clínica Médica, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O estudo, em nível de doutorado, dividido em três etapas principais, revelou-se tão promissor que já foi premiado em sua primeira fase como o melhor pôster na 18ª edição da Conferência Internacional em Química Inorgânica Biológica - International Conference on Biological Inorganic Chemistry (ICBIC), realizada este ano em Florianópolis.

Foto: Scarpa
A farmacêutica Tuany Cândido, autora da tese de doutorado

Altamente multidisciplinar, o trabalho apresentado teve ainda como coautores os pesquisadores Ana Lucia Tasca Gois Ruiz e Sirlene Valério Tinti, da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA); Pedro Paulo Corbi e Camila Abbehausen, do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química (IQ); e João Ernesto de Carvalho, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), todos da Unicamp.

A primeira parte da pesquisa, realizada nos laboratórios do CPQBA e do IQ e que deu origem ao pôster “Gold, Paladium and Silver Metallic Complexes in the Treatment of Skin Squamous Cell Carcinoma”, estudou a ação de quatro complexos metálicos de ouro, paládio e prata, previamente selecionados, no tratamento de células tumorais de diferentes órgãos, cultivadas no CPQBA, para que pudessem ser inicialmente verificados suas atividades sobre elas. Na sequência, com a mesma finalidade, a idêntico procedimento foram submetidas células de carcinomas escamosos de faringe e de língua, já que mais próximas do objetivo do trabalho, que é o tratamento de carcinoma de células escamosas cutâneas.

Nesta parte da pesquisa constatou-se que dois dos complexos metálicos utilizados - um de ouro e outro de prata – apresentaram atividade antiproliferativa nas células tumorais selecionadas, levando à morte as células cancerígenas e impedindo o surgimento de outras.

O próximo passo, agora a ser realizado no Laboratório de Genética do Câncer da FCM, envolverá o isolamento de células de fragmentos do carcinoma estudado provenientes de pacientes do HC da Unicamp para que sejam submetidas a teste com os dois complexos que se mostraram mais efetivos.

O carcinoma de células escamosas cutâneas acomete frequentemente regiões como o nariz e os lábios. Embora esses tumores em geral não deem origem a metástases podem provocar efeitos locais muito sérios, levando à perda do nariz ou dos lábios. Carmen explica que, como a remoção desse carcinoma é cirúrgica, “nosso objetivo imediato não é eliminar essa intervenção, embora isso possa vir a se tornar possível, mas chegar a um fármaco de uso tópico capaz de reduzir bastante a extensão do tumor para que a ressecção cirúrgica deixe menores sequelas estéticas e funcionais possíveis”.

Etapas

Do projeto constam ainda mais duas etapas. A próxima, em andamento também no CPQBA, orientada pela veterinária Karin Costa e supervisionada também pelo professor João Ernesto, envolve a indução do tumor em camundongos para a realização do tratamento tópico com os mesmos dois complexos metálicos. Esse tratamento, que constitui a terceira fase do estudo, prevê a aplicação, na região tumoral dos animais, de uma membrana de celulose bacteriana que adere à pele, impregnada dos complexos metálicos, que está sendo desenvolvida na UNIARA. Nesta única etapa a pesquisadora não tem participação direta, pois nas demais ela mesma executou os trabalhos devidamente orientada pelos profissionais das respectivas áreas., o que a orientadora considera importante para sua formação.

A ideia, explica a docente, foi aglutinar os conhecimentos de várias áreas. Caso dos complexos promissores para o combate a células cancerígenas, cujas preparações foram desenvolvidas no IQ pelos professores Pedro Paulo e Camilla e suas equipes; das linhagens celulares cultivadas no CPQBA e das experiências com experimentos in vitro da professora Ana Lúcia e da técnica Sirlene da mesma unidade, cujos laboratórios foram cedidos para as pesquisas supervisionadas pelo professor João Ernesto, da FCF; do pessoal do curso de engenharia da Universidade de Araraquara, UNIARA, que sob a supervisão do professor Wilton Rogerio está desenvolvendo o adesivo, membrana de celulose bacteriana a ser utilizada para a liberação adequada do quimioterápico na pele.

A docente destaca a importância fundamental de cada uma das etapas, permitindo primeiro determinar a eficiência in vitro dos complexos selecionados para combater células tumorais, que depois serão aplicados para dimensionar suas ações e toxidades no modelo animal, quando então serão verificadas as possibilidades de utilizá-los em humanos, o que provavelmente ficará para um projeto de pós-graduação.

 

Imagem de capa JU-online
Amostras usadas nas pesquisas: testes com quatro complexos metálicos | Foto: Antonio Scarpinetti

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