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Engenheira detecta mofo, corrosão e fissuras em escolas pré-fabricadas

Pesquisadora analisou cinco edificações da rede estadual construídas entre os anos de 2004 e 2009, em Campinas

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As edificações escolares pré-fabricadas começaram a ser construídas no Estado de São Paulo em 2003. Objetivava-se a utilização de um sistema construtivo de qualidade, que oferecesse maior possibilidade de controle na produção dos elementos construtivos, e consequentemente, maior durabilidade e ampliação da vida útil das unidades escolares, além de redução do seu prazo de entrega.

Como o próprio nome sugere, a pré-fabricação envolve a produção integral em indústrias de elementos de concreto da construção civil, como lajes, vigas e pilares, que são moldados e curados e posteriormente transportados e montados nas obras.

A Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão ligado à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, é a gerenciadora dos processos para implantação de novas escolas, suas manutenções e reformas. A ela cabe o encaminhamento licitatório para seleção de empresa que se encarregará dos projetos e execução das obras dos edifícios.

Foto: Antonio Scarpinetti
A engenheira Maria Emília da Silva Oliveira Araújo, autora da dissertação: implantação de um sistema de manutenção periódica é fundamental

Dissertação de mestrado desenvolvida pela engenheira civil Maria Emília da Silva Oliveira Araújo, graduada pela Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, dedica-se a mapear e analisar as manifestações patológicas em cinco das nove edificações escolares pré-fabricadas, em Campinas, construídas entre os anos de 2004 e 2009. Desenvolvida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, a pesquisa foi orientada pelo professor Carlos Eduardo Marmorato Gomes.

Os tipos de manifestações patológicas estudadas foram fissuras em alvenarias de vedação e em estruturas de concreto, umidade ou fungos e eflorescência ou lixiviação, esta decorrente do acúmulo de sais provenientes do cimento, que ocorre pela ação da umidade e da água comprometendo a estética. Estas manifestações, presentes nos elementos de alvenaria e estrutura de concreto, foram analisadas quantitativamente por meio da Avalição Pós-Ocupação (APO) e identificadas por dois métodos: avaliação do desempenho físico (método walkthrough) e registro fotográfico.

O estudo analisa também essas manifestações patológicas relacionando-as com a durabilidade da construção, segurança e saúde dos ocupantes. Estabelecendo um paralelo com outros estudos disponíveis, a autora considera que as manifestações patológicas observadas decorrem do projeto, de sua execução, do uso da construção e da ausência de uma gestão de manutenção predial.

Foto: Reprodução
Mofo em alvenaria

Considerações

Para Maria Emília, as análises dos resultados possibilitam conclusões semelhantes às de outras pesquisas que adotaram a APO como método de avalição de desempenho.  Revela-se, então, fundamental a implantação de um sistema de manutenção periódica nos prédios escolares, pois observou-se que realizar manutenções corretivas demandam custos maiores. Na falta de intervenções preventivas poderão surgir problemas de mofo, vazamentos e rachaduras, que deprimem a estética da construção, geram inseguranças na sua utilização e comprometem a saúde dos usuários. Para ela uma melhor adequação dos projetos aos sistemas construtivos durante o planejamento garante a elaboração de projetos mais eficazes, que evitam a necessidade de intervenções posteriores, que podem agravar os problemas observados, e permite uma utilização mais plena do edifício escolar público.

Corroboram esses argumentos relatos de diretores de escola ao atestarem que a falta de conhecimento da melhor utilização dos ambientes escolares leva a projetos inadequados e que causa transtornos aos usuários.

 

Foto: Reprodução
Fissura em alvenaria

 

Conclusões

As fissuras em alvenaria e elementos de concreto estavam presentes em 100% das edificações analisadas. A maior parte delas decorre da movimentação hidrotérmica dos tijolos cerâmicos. As alvenarias nessas construções são encaradas pelas empresas construtoras apenas em relação às funções de vedação, levando-as a desconsiderar aspectos importantes como, por exemplo, absorção de umidade e de água, porosidade e propriedades mecânicas.

A presença do mofo ou “bolor” foi a segunda patologia com maior frequência, identificada em 13% dos casos estudados. Ela decorre de falhas na execução de elementos de platibandas e peitoris de janelas e falta de manutenção da pintura. A qualidade dos elementos de alvenaria também potencializa esta manifestação.

Embora em menor proporção, verificaram-se também problemas de eflorescência no concreto e corrosão do aço. Embora não tivesse sido possível identificar suas causas, a literatura as atribui a falhas de projeto e execução e  falta de manutenção da estrutura.

A pesquisadora surpreendeu-se com o fato de edificações escolares pré-fabricadas, supostamente suscetíveis de maior controle de qualidade por envolver processos industrializados, apresentarem problemas que se previam mínimos. Esperava-se que tivessem maior qualidade construtiva que as construções convencionais, mas não foi o que se verificou.

 

Imagem de capa JU-online
Mofo em estrutura de concreto

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