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Farmacêutica sintetiza dois novos compostos com propriedades antifúngicas

Estudo, desenvolvido no Instituto de Química, gerou pedido de registro de patente

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A medicina tem registrado nos últimos anos um número crescente de casos de infecções provocadas por fungos. Dois fatores associados a este avanço são o aumento do contingente de pessoas imunodeprimidas e a resistência dos micro-organismos aos medicamentos presentes no mercado. Estudo realizado para a tese de doutorado da farmacêutica Marilia Simão dos Santos desenhou e sintetizou dois novos compostos com propriedades antifúngicas. A pesquisa abre perspectiva para o desenvolvimento de futuros fármacos destinados ao tratamento dessas enfermidades. O trabalho, defendido no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, foi orientado pelo professor Fernando Coelho.

 De acordo com Marilia, ela e seu orientador já estão providenciando, com o suporte da Agência de Inovação Inova Unicamp (Inova Unicamp), o pedido de registro de patente da tecnologia. A proteção intelectual é fundamental, em razão da originalidade do estudo. A autora da tese explica que os novos compostos foram inicialmente planejados e depois sintetizados. “Para explicar de maneira simples, o que eu fiz inicialmente foi desenhar duas novas estruturas, baseadas nos antifúngicos comerciais utilizados na clínica médica e em moléculas descritas na literatura que também apresentam atividades antifúngicas. O passo seguinte foi fazer a síntese, ou seja, a ligação entre as partes, de modo a obter estruturas híbridas também com capacidade de combater os fungos”, detalha a pesquisadora.

Foto: Antonio Scarpinetti
A farmacêutica Marilia Simão dos Santos, autora da tese: “Os compostos demonstram uma atividade semelhante ao do medicamento que tomamos como referência, sendo que para algumas cepas de micro-organismos a atividade foi ainda superior ao do fármaco comumente usado no tratamento das infecções fúngicas”

Superadas estas duas etapas, Marilia precisava cumprir mais uma fase: comprovar que os novos compostos poderiam de fato inibir o crescimento dos fungos. “Depois das moléculas sintetizadas, nós fizemos os ensaios biológicos in vitro. Felizmente, as estruturas demonstraram uma importante propriedade antifúngica, frente a alguns fungos selecionados. De maneira geral, elas demonstram uma atividade semelhante ao do medicamento que tomamos como referência, sendo que para algumas cepas de micro-organismos a atividade foi ainda superior ao do fármaco comumente usado no tratamento das infecções fúngicas”, revela.

Os resultados obtidos com a pesquisa, considera Marilia, evidenciam que os novos compostos são muito promissores. A farmacêutica observa, entretanto, que antes destas estruturas serem utilizadas para o desenvolvimento de uma nova classe de medicamentos, vários outros estudos terão que ser realizados. “Precisamos verificar o grau de toxicidade e o mecanismo de ação desses compostos. Em seguida, será necessário realizar testes in vivo, para somente depois iniciarmos um eventual teste clínico. De toda forma, a pesquisa traz novos conhecimentos paras as áreas envolvidas com o desenvolvimento de fármacos”, entende a autora da tese.

Metodologia

Além de desenhar e sintetizar dois novos compostos com propriedades antifúngicas, a pesquisa de doutorado de Marília também desenvolveu novas metodologias para a síntese de moléculas já conhecidas pela ciência. Em outras palavras, ela utilizou técnicas diferentes para chegar a resultados já reportados pela literatura científica. Nesse caso, os compostos sintetizados podem ter múltiplas aplicações, como solventes ou potenciais fármacos com propriedades antibacterianas e anticancerígenas, para ficar em poucos exemplos.

 Na opinião de Marilia, um dos principais objetivos da ciência é justamente chegar a processos ou produtos que possam ter aplicação e, consequentemente, tragam benefícios para a sociedade. “Esta é uma meta muito desafiadora, que exige não somente um aprofundado conhecimento em química, mas o diálogo com outras áreas do saber, como a biologia e, mais à frente, a medicina”, afirma a autora da tese, que realizou parte dos estudos na Universidade de Nottingham, no Reino Unido, onde foi coorientada pelo professor Christopher John Moody. A pesquisadora contou com bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

 

Imagem de capa JU-online
Foto: Antonio Scarpinetti

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