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Química desenvolve método inovador para controle de pragas em coqueirais

Técnica minimiza impactos ambientais e livra a água e a polpa de contaminação

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O coqueiro é a palmeira de maior importância econômica, social e ambiental nos ecossistemas tropical e subtropical pela variedade de aproveitamentos que oferece, gerando empregos, renda e contribuindo para a alimentação com o seu fruto. Deste vem a apreciada água de coco e do albúmen sólido (polpa) obtém-se o coco ralado e extraem-se açúcar, leite e óleo, produtos cada vez mais introduzidos na culinária pelo sabor, qualidades nutricionais e baixo índice glicêmico. Em decorrência de seus múltiplos usos, desde o artesanato à construção de moradias, a planta é denominada “Árvore da vida”.

Entretanto, a cultura do coqueiro está sujeita ao ataque de pragas e doenças que causam prejuízos à produção e afetam a qualidade dos frutos. Para controle desses males uma das práticas mais utilizadas é a pulverização da planta com agrotóxicos, face à precariedade de outros recursos com resultados imediatos. Impõem-se, portanto, a verificação e a determinação de resíduos de agrotóxicos no fruto para evitar riscos à saúde do consumidor.

Foto: Antoninho Perri
A professora Carla Beatriz Grespan Bottoli, orientadora,e Jordana Alves Ferreira, autora da tese

A isto se propôs a química Jordana Alves Ferreira em pesquisa que teve como objetivo principal avaliar o desempenho na eficiência de translocação (movimento) dos agrotóxicos aplicados por endoterapia no coqueiro e determinar eventual contaminação da água e do albúmen sólido do coco. O trabalho, orientado pela professora Carla Beatriz Grespan Bottoli, do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e financiado pela Fapesp e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCTBio), contou com a colaboração das pesquisadoras Joana Ferreira e Viviane Talamini, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Aracaju, Sergipe, que desenvolve pesquisas relacionadas à cocoicultura.

A Embrapa tinha interesse em um método analítico que pudesse comprovar a translocação do agrotóxico pela planta. O projeto viabilizou-se com o apoio da Sococo Agroindústria da Amazônia, que mantém parcerias com a Embrapa, e disponibilizou uma área experimental destinada a pesquisas na Fazenda Sococo, em Moju, no Pará, onde se encontra o maior coqueiral do mundo, com mais de um milhão de exemplares.

Endoterapia

Embora tradicionalmente o combate a pragas e doenças de coqueiros seja feito com a pulverização de agrotóxico, Jordana utilizou um método alternativo denominado endoterapia, que consiste na injeção ou infusão de agrotóxicos dentro do estipe (caule do coqueiro). Na injeção, o estipe é perfurado e no orifício é aplicada a dosagem de agrotóxico com seringa. Na infusão, o próprio equipamento faz a perfuração e introduz o agrotóxico, minimizando os danos no estipe.

 

Foto: Divulgação
Fazenda no município paraense de Mojú, onde foram feitas as pesquisas

 

O tratamento empregado oferece vantagens sobre os convencionais: reduz a contaminação ambiental; é mais seguro para o aplicador; atinge o alvo desejado com menos perdas; prescinde de equipamentos para atingir as folhas de coqueiros que podem ultrapassar os dez metros; permite um tratamento localizado em situações de ataques letais e persistentes de pragas e microrganismos; apresenta maior eficiência quando o tratamento foliar ou no solo são difíceis ou não se mostram efetivos; e evita que o agrotóxico seja arrastado pela água das chuvas ou eventualmente degradado pelo sol. Mas exige a aplicação em cada planta.

Na tese, a pesquisadora avalia a translocação de diferentes agrotóxicos aplicados por endoterapia de infusão e injeção, com vistas a compreender alguns fenômenos relacionados às propriedades físico-químicas dos agrotóxicos, ainda não devidamente explorados na literatura científica, e detém-se, também, principalmente, em avaliar os frutos das plantas tratadas. Para tanto, o trabalho propõe métodos analíticos no estipe para avaliar a translocação de agrotóxicos e de suas eventuais presenças nos frutos, analisando o albúmen sólido e na água-de-coco, separadamente. Os métodos propostos foram desenvolvidos, validados e aplicados, mostrando-se viáveis em termos de detecção e quantificação.

 

Foto: Divulgação
Procedimento utilizando o tratamento endoterápico de injeção. (a) Perfuração do estipe com o auxílio de uma furadeira; (b) introdução do agrotóxico no orifício com uma seringa; (c) orifício após a aplicação do agrotóxico; (d) fechamento do orifício com um tarugo verde.

 

Resultados

Os resultados das análises permitiram constatar, tanto na injeção quanto na infusão, a translocação dos agrotóxicos no estipe até a copa das plantas tratadas. Nos frutos, coletados até 120 dias após os tratamentos, não foi detectada nenhuma contaminação, tanto no albúmen sólido quanto na água de coco, comprovando que o método endoterápico pode ser eficaz no controle de doenças e pragas caulinares e foliares nos coqueiros e não oferece risco em relação à contaminação do coco.

 

Foram analisados tanto os frutos com maturação destinados à extração da água como os secos, utilizados na produção de coco ralado e na extração do leite e do óleo. O projeto desenvolvido no IQ e na Fazenda Sococo, em coqueiros híbridos, em plantas com média de 2,30 m de altura, é inédito pelo fato de empregar plantas de grande porte em estudos de translocação de agrotóxicos.

Foto: Divulgação
Procedimento utilizando o tratamento endoterápico de injeção. (a) Aplicação do agrotóxico com o equipamento Bite Infusion®; (b) o resultado do furo após a aplicação.

A endoterapia constitui um método alternativo no combate a focos localizados ou medida preventiva para pragas persistentes. As pesquisadoras enfatizam que se trata de um estudo embrionário que demanda ainda a verificação de outros parâmetros como a seleção dos agrotóxicos, as determinações das dosagens, os intervalos de aplicação, entre outros, para que venha a se constituir um método de rotina eficiente e que permita dimensionar com segurança os riscos à saúde humana e ao meio ambiente. 

 

Imagem de capa JU-online
Foto: Antoninho Perri

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