Foto: DivulgaçãoMaria Beatriz Machado Bonacelli, professora livre-docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), coordenadora do Programa de Pós-Graduação em PCT (Instituto de Geociências). O livro "Propriedade Intelectual Propriedade Intelectual e Inovações na Agricultura" (INCT/PPED, Ideia D), do qual foi um dos organizadores, recebeu o Prêmio Jabuti 2016, segundo lugar na categoria Economia e Administração.

Universidade e diversidade – como explorar essa riqueza?

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Ilusrtração : Luppa SilvaA universidade continua sendo um sonho e um desafio para a maioria dos jovens de toda a parte do mundo. A universidade é o que o próprio nome sugere - qualidade ou condição de universal. Universo que se descortina ou que se agiganta, descobertas, novos horizontes, aprendizado, autonomia ...

Não há um país – no rol dos que dão condições mais dignas à sua população - que não tenha se deparado em algum momento com o desafio de promover o acesso dos seus jovens a uma educação de qualidade que possa realmente fazer diferença na vida de cada um, mas também na vida da nação.

Mas isso não foi sempre assim; é recente na História a preocupação da universidade com a questão da universalidade do ensino e a relação mais estreita com qualidade de vida das pessoas, com as atividades do mundo da produção industrial, com o desenvolvimento da sociedade de uma forma geral.

Esse cenário ganhou contornos diferentes num espaço de um pouco mais de um século, com a universidade se imbuindo de missões e se deparando com demandas cada vez mais ousadas e amplas, dado que seu espaço de atuação também se ampliou - da formação de recursos humanos de alta qualidade, passando pela transmissão e transferência do conhecimento a um público ainda mais amplo do que aquele que frequenta suas salas de aula, mas também incluindo sua capacidade de internalizar pressões extramuros – sendo essas cada vez mais variadas e complexas.

Foto: Antonio Scarpinetti

Do suporte às demandas da grande indústria nascente da IIa. Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, passando pelo papel decisivo na Era da Big Science no pós IIa. Guerra Mundial, atingindo um lugar de destaque no processo de inovação e de transferência de conhecimento já a partir do final do século XX, a universidade mostra uma importante capacidade de internalizar mudanças e pressões se comparada a outras instituições.

Para isso, logicamente que sua estrutura tenha mudado, suas instâncias de decisão tenham se ampliado e se democratizado, sua comunidade tenha se diversificado. Não são apenas professores e alunos, mas uma gama importante de funcionários, gestores e dirigente é também requisitada para dar conta tanto de suas missões mais clássicas e tradicionais (como ensino de excelência e pesquisa incremental e na fronteira do conhecimento), assim como da relação com a sociedade (a qual vem sendo chamada de Terceira Missão), que se dá de muitas e diferentes formas e que vêm colocando desafios ímpares à universidade em geral. Isso porque a produção de conhecimento está cada vez mais descentralizada – ou seja, vários atores e agentes participam deste processo – e, mesmo a universidade mantendo o papel de excelência no desenvolvimento de novas expertises, ela precisa, cada vez mais, criar os canais adequados para atrair esses conhecimentos desenvolvidos fora de seus muros e, simultaneamente, transmitir, transferir, disseminar os que aqui são criados.

Ao mesmo tempo que é necessária uma visão global de seu papel e para a produção e refinamento do conhecimento, sua atuação tem que considerar seu entorno, sua comunidade, sua região – não é possível mais desconsiderar sua condição geográfica e a comunidade que a abriga, desconsiderar o impacto local de suas ações. É a universidade “glocal”[I], que congrega o nível intercontinental como o ambiente regional, local. Não é mais concebível uma universidade moderna e global num entorno carente.

Tratar dos avanços da ciência e da tecnologia, da pesquisa e do desenvolvimento e incluir aí a inovação, o desenvolvimento da região (pessoas e organizações – empresas, prefeituras, escolas, organizações não governamentais, comunidades diversas ...), o ensino continuado, levar e trazer cultura e novas experiências de vida e vivência é dar abertura à diversidade, que não poderia encontrar melhor lugar para se abrigar (ao menos deveria ser assim) que na universidade – universal, diversa, plural.

A Unicamp tem todos esses ingredientes e encontra-se em momento crucial – qual seja, de criar mecanismos mais robustos, complexos e desafiadores para internalizar as inúmeras demandas da sociedade por educação, por ciência, por conhecimento, por inovação, por cultura, por cidadania.

A diversidade – de saberes, de conhecimento, de experiência, de vida – é a maior riqueza que podemos ter se soubermos percebê-la e dar espaço para seu acolhimento. O momento exige discernimento, compromisso e novos olhares para retribuir à comunidade o maior benefício social que estiver ao nosso alcance.

 


[I] Termo cunhado pelo sociólogo Roland Robertson, segundo F. X. Grau, há mais de 30 anos. Ver detalhes em Ana Maria Nunes Gimenez, “As multifaces da relação universidade-sociedade e a construção do conceito de Terceira Missão”, tese defendida no Programa de Pós-Graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), Unicamp, em março de 2017.

 

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