Edição nº 548

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 03 de dezembro de 2012 a 09 de dezembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 548

Licenciatura
com contextualização


 

Formar educadores para atuar na educação básica com sólida fundamentação em conhecimentos acadêmicos que possibilitem a construção de um olhar contextualizado sobre a escola, o sistema educacional e a realidade social mais ampla da qual fazem parte. Este é um dos grandes desafios dos cursos de formação de professores na Unicamp. O número de estudantes matriculados nos cursos de licenciatura da universidade é de aproximadamente 3.400 alunos, o que representa 20% do total de 17 mil estudantes de graduação da universidade.

Eliana Ayoub, presidente da Subcomissão Permanente de Formação de Professores (SPFP), ligada à Comissão Central de Graduação da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), lembra que, em 2002, o Conselho Nacional de Educação publicou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, as quais prevêem que todos os cursos de licenciatura tenham um projeto pedagógico próprio. “Isso implica a necessidade de mostrar que, para que o aluno se forme, por exemplo, professor de biologia ou biólogo, ele deve percorrer projetos curriculares distintos – ainda que concomitantes e que dialoguem entre si”. Tomando como referência as orientações dadas pelas Diretrizes, os cursos de formação de professores da Unicamp iniciaram um importante processo de reformulação de suas proposições curriculares, que foi coordenado pela SPFP, instituída em dezembro de 2003 e com a finalidade de prover a universidade de subsídios no que diz respeito à sua Política de Formação de Professores.

Segundo Guilherme do Val Toledo Prado, vice-presidente da SPFP, tem sido comum que bacharéis que haviam se formado nos cursos de graduação voltem à universidade para fazer a licenciatura e poder atuar profissionalmente na docência. Entretanto, eles apontam que somente cursar as disciplinas necessárias para obter a licenciatura não é suficiente para que consigam a formação teórico-prática necessária para serem melhores professores. “Eles notam claramente que tinham de entender e aprender, anteriormente, nas suas disciplinas de base, qual era o vínculo com a docência. Os próprios reingressantes sinalizam para nós – que trabalhamos, refletimos, pesquisamos e produzimos conhecimento na área de educação – que somente cursar as disciplinas pedagógicas não é suficiente, não adianta. É preciso uma formação integrada e íntegra, que faça a correlação das disciplinas com a atividade docente e aponte a profissão de professor como uma outra possibilidade profissional”, diz Prado. Nessa mesma linha de raciocínio, Ayoub afirma que compreender a formação de professores como um percurso específico, no âmbito de uma graduação profissional, é uma cultura que vem se construindo nestes últimos anos e consolidando-se aos poucos. “Precisamos, para isso, que professores, gestores, estudantes e a sociedade como um todo, compreendam que um curso de formação de professores se dá desde a primeira até a última disciplina na universidade”, pondera.

Em 2010, a PRG criou um grupo de trabalho, o GT das Licenciaturas, um espaço de interlocução com os diretores das unidades de ensino que abrigam cursos de formação de professores. Esse GT, no qual a SPFP assumiu um papel central, concluiu seus trabalhos no primeiro semestre de 2012, sinalizando para a comissão de vagas docentes da universidade a necessidade de contratação de docentes nas diversas unidades que oferecerem cursos de licenciatura e enfatizando a importância de aprofundar o processo de avaliação dos respectivos projetos pedagógicos, objetivando indicar as dificuldades encontradas e as ações necessárias para o aperfeiçoamento dos mesmos.

A subcomissão assumiu, portanto, o compromisso de deflagrar esse processo mais amplo de avaliação, assim como o de sistematizar o conjunto de ações que a universidade realiza no âmbito da formação de professores. O objetivo é consolidar a Política de Formação de Professores da Unicamp em consonância com os objetivos de excelência da graduação na universidade e com as proposições mais gerais da Política Nacional de Formação de Professores. Ela também tem sido responsável por coordenar ações junto a órgãos internos da PRG, como SAE e EA2, promovendo, por exemplo, a normatização dos estágios obrigatórios que devem ser cumpridos pelos estudantes dos cursos de formação de professores.

Tais estágios têm hoje um termo de compromisso e seguro de vida para os estagiários, ou seja, funciona como qualquer outro estágio de um aluno da Unicamp. Em agosto de 2012, também foi aprovado o “Programa de Auxílio Transporte para Licenciaturas” que tem por objetivo contribuir para a locomoção dos alunos até o local de estágio. “Acontecia, muitas vezes, uma concentração dos estágios no entorno da Universidade, pois todo mundo ia para as mesmas escolas. Com esse programa, as escolas que estão distantes da Unicamp ou na periferia da cidade também poderão ser atendidas”, comemora Ayoub.

Pró-Letramento e Licenciaturas

O Pró‐Letramento é um programa de formação continuada de professores do ensino fundamental para melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura, escrita e matemática, realizado pelo MEC em parceria com as universidades.

A Unicamp participa do Pró-Letramento desde 2005 e, em 2011, a SPFP tornou-se responsável pelas atividades do programa, cuja vigência vai até setembro de 2013. Em suas diferentes etapas nestes dois últimos anos, o Pró-Letramento contou com a participação de 100 tutores e 2443 cursistas, oriundos de 45 cidades do Estado de São Paulo.

A subcomissão coordena ainda o Programa das Licenciaturas Internacionais (PLI) que é uma iniciativa da Capes e da Universidade de Coimbra-Portugal. Esse programa visa à elevação da qualidade da graduação, tendo como prioridade a melhoria do ensino nos cursos de licenciatura. Atualmente, a Unicamp tem sete estudantes de licenciatura na Universidade de Coimbra (nas áreas de biologia, educação física e matemática), que lá estão desde setembro de 2011, com previsão de retorno ao Brasil em julho de 2013. Trata-se de uma graduação sanduíche com dupla diplomação.

Iniciação à docência

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), da Capes, também é uma atividade assumida pela subcomissão e que, de acordo com Ayoub, fomenta novos questionamentos e problematizações sobre a valorização da formação de professores. A Unicamp participou de todos os editais do PIBID abertos para universidades estaduais até o momento, em 2009, 2011 e 2012.

Atualmente há 17 subprojetos do PIBID em andamento na Universidade, os quais foram propostos por docentes envolvidos com os cursos de formação de professores em diferentes unidades da Unicamp: Artes Visuais, Ciências Biológicas, Dança, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Integrada Química-Física, Letras, Música, Pedagogia, Química e Sociologia. Tais subprojetos foram encaminhados à SPFP, que os avaliou, elaborou os projetos institucionais e coordenou todo o processo de implementação. Ayoub esclarece que “os subprojetos são feitos com as escolas e não para as escolas. Eles são pensados em conjunto com o professor da universidade e com o supervisor da escola. Há uma bolsa para o professor da universidade, uma bolsa para o aluno da Unicamp e uma bolsa para o supervisor da escola. Essa grande equipe é que define os objetivos das ações de iniciação à docência.”

Conforme Prado, essas ações didáticas mostram para o licenciando que a docência é uma atividade circunscrita num contexto social específico e que o local da profissão não é somente a sala de aula – mas sim uma sala de aula que está dentro de uma escola, a qual tem um projeto pedagógico e atende certa comunidade. “O futuro professor tem de refletir sobre o seu exercício profissional levando em conta todas essas esferas sociais. O PIBID, portanto, evidencia uma problematização da formação do sujeito, do aluno da Unicamp que cursa uma graduação de formação de professores. O estudante pode perceber, por exemplo, o que precisa ser integrado à formação que está recebendo na universidade e que possa ajudá-lo a enfrentar questões que se colocam no dia-a-dia da escola e da prática da docência”, afirma o professor.

O PIBID diferencia-se dos estágios obrigatórios curriculares que o aluno de licenciatura tem de realizar, pois além de não ficar circunscrito à semestralidade das disciplinas da universidade, pressupõe o envolvimento contínuo e sistemático do estudante bolsista com as ações de iniciação à docência propostas nos subprojetos, bem como o planejamento conjunto das mesmas. O programa conta com uma equipe composta por 24 docentes, 33 supervisores e 330 bolsistas, distribuídos em 23 escolas públicas. Entre bolsistas e ex-bolsistas do PIBID-Unicamp, soma-se um total de 655 estudantes.

Atualmente, a SPFP está elaborando o regimento do programa na Unicamp, que deve estar pronto até meados de julho de 2013, período em que há previsão para que o programa transforme-se em uma demanda de fluxo contínuo nas universidades.

Prado e Ayoub consideram que a participação da Unicamp no PIBID pode criar uma cultura nova universitária de valorização da formação docente, assim como ocorre com o PIBIC em relação à iniciação científica. Destacam, ainda, o entendimento de que a formação de professores é também uma formação científica e que o PIBID vem reforçando essa concepção, ao propiciar um conjunto significativo de experiências de iniciação à docência entrelaçadas aos processos formativos acadêmico-científicos.