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Engajamento na graduação aumenta permanência e conclusão, revela estudo

Levantamento foi desenvolvido por pesquisadora da Unicamp em cooperação com consórcio internacional de universidades

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Um estudo desenvolvido pela socióloga Ana Maria Carneiro, doutora em política científica e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp, discute o engajamento do estudante de graduação e sua associação com a experiência global em uma universidade com vocação para a pesquisa. Entende-se o engajamento como a quantidade de energia física e psicológica que o aluno dedica à experiência acadêmica. Grande parte do trabalho foi orientada no sentido de identificar fatores do ambiente universitário que afetam significativamente a integração, permanência e conclusão do aluno no ensino superior. Em vista disso, o estudo procurou investigar: quais os principais modos desse engajamento; se a inserção nos seus vários padrões varia de acordo com as características dos estudantes e dos cursos; e como essas possíveis variações estão associadas à performance acadêmica e à conclusão do curso. A pesquisa utilizou dados de um questionário respondido por cerca de 3,4 mil alunos de graduação da Unicamp em 2012, que correspondem a aproximadamente 20% de um total de 16 mil na época, complementados por registros acadêmicos e dados socioeconômicos.

A análise exploratória permitiu estabelecer cinco tipos de engajamento estudantil: em atividades curriculares e de pesquisa com docentes; em atividades sociais e de lazer; em atividades curriculares fora da sala de aula; em atividades extracurriculares; e também o desengajamento curricular. A autora do trabalho considera que foi possível estabelecer associações muito importantes entre o grau de envolvimento dos graduandos nos vários modos de engajamento e a satisfação com a experiência na Unicamp, o sentimento de pertencimento à instituição, o coeficiente de rendimento, o tempo de conclusão do curso e o índice de evasão.


Origens

O estudo fez parte do projeto “Experiência Estudantil em Universidade de Pesquisa - Student Experience in the Research University (SERU) –, sediado no Center for Studies in Higher Education  da Universidade da Califórnia, onde a pesquisadora esteve como visiting scholar em 2016. Desse projeto, delineado no final  da década de 1990 por um consórcio de 20 universidades dos EUA, participam hoje 26 universidades americanas e 20 de outros países. O SERU foi criado com a missão de ajudar a melhorar a experiência de graduação e de pós-graduação e processos educacionais,  por meio da  geração de novas informações sobre as experiências de estudantes, que pudessem ser utilizadas por administradores e gestores e estudiosos das universidades que têm significativa orientação para a pesquisa.  “As instituições do consórcio pretendiam avaliar a experiência dos seus estudantes nas várias dimensões da vida acadêmica com o objetivo de realizar intervenções que pudessem contribuir para ampliar suas inserções na vida universitária que contribuíssem para o  desempenho e  inclusive favorecessem  as condições de empregabilidade”, complemente a pesquisadora. Para os cursos de graduação, o projeto começou a ser aplicado em 2001 e, a partir de 2014, passou a envolver também a pós-graduação.

Foto: Scarpa
A socióloga Ana Maria Carneiro: “Embora não constitua uma amostra estatisticamente representativa no sentido estrito, ela permite chegar a indícios confiáveis”

Em 2010, o consórcio resolveu expandir o trabalho, aperfeiçoado ao longo dos anos, para outras universidades de pesquisa do mundo, que mantêm pós-graduação forte em várias áreas e uma importante população de alunos nesse segmento. A Unicamp foi a única universidade da América do Sul a ser convidada. Sua participação no consórcio foi liderada pelo professor Marcelo Knobel, atual reitor e então pró-reitor de Graduação. A adaptação do questionário do SERU para as condições da Unicamp foi conduzida pelo professor Renato Pedrosa.

O questionário foi então enviado para os mais de 16 mil alunos que frequentavam a graduação da Unicamp em 2012 e teve retorno de 25%, que se reduziu a 20% com as exclusões naturais nesses estudos, índice considerado bom em vista das experiências internacionais. “Embora não constitua uma amostra estatisticamente representativa no sentido estrito, ela permite chegar a indícios confiáveis por apresentar composição muito semelhante ao universo do total de estudantes da época, tais como distribuição por sexo, por cursos diurnos e noturnos e áreas, o que credencia significativamente a utilização dos resultados no aperfeiçoamento dos cursos e na prestação de contas à sociedade”, considera a pesquisadora.


O engajamento na Unicamp

Face aos dados do questionário aplicado em 2012 e em decorrência das adaptações feitas pela autora, cinco tipos de engajamento serviram de base para as análises: 1) aquele que envolve atividades curriculares com professores, particularmente em sala de aula – que reflete um aprendizado centrado na aula, uma característica da universidade brasileira; 2) o relacionado a atividades sociais e de lazer; 3) o que envolve na realidade um desengajamento curricular de alunos que não participam das aulas e entregam trabalhos depois do prazo; 4) o que se atém à participação curricular fora da sala de aula – que identifica aqueles que trabalham conjuntamente com colegas e até os ajudam nos estudos; 5) e aquele que diz respeito à participação dos estudantes nas atividades extracurriculares através de organizações estudantis, em trabalhos voluntários, em festas, nas empresas juniores e em práticas esportivas – consideradas neste grupo atividades que se desenvolvem no campus.

A pesquisadora procurou então verificar se ocorriam variações do envolvimento nestas várias dimensões da vida estudantil com as características dos graduandos. Os resultados mostraram que os alunos do sexo masculino estavam menos engajados nas atividades fora da sala de aulas, mas mais engajados nas atividades extracurriculares. Já os alunos dos cursos noturnos revelaram-se menos engajados nesses dois módulos em relação aos do diurno, provavelmente porque dispõem de menos opções no período que frequentam.

Foi possível associar o nível de engajamento com a satisfação com a Unicamp – mais engajados, mais satisfeitos; com o senso de pertencimento – os mais engajados são os que também mais se sentem parte da Universidade; com o desempenho acadêmico – os mais engajados nas atividades com professores apresentam melhor desempenho; e a situação de matrícula – entre os mais engajados é maior a proporção dos que se formam. De um modo geral, diz a pesquisadora, “quanto mais engajados, em todos os cinco módulos mais satisfeitos, os alunos se revelam em relação à experiência na Unicamp. Por outro lado, quanto mais engajados nas atividades curriculares com professores e nas extracurriculares mais se sentiam parte da universidade, maior o sentimento de pertencimento, o que certamente deve contribuir para diminuir a evasão”. Os resultados da pesquisa convergem com outros estudos que mostram a relevância da integração à vida universitária para o sucesso acadêmico e a satisfação do estudante com sua formação.


Decorrências

Em 2016, depois de quatro anos da aplicação do questionário, foram utilizados dados disponibilizados pela Diretoria Acadêmica para verificar qual era então a situação dos alunos da amostra estudada. Constatou-se que 53% deles tinham se formado, 40% continuavam os estudos e 7% evadiram – levantamento em que não foram consideradas as durações dos cursos, que vão de quatro a seis anos. Ao cotejar essas informações com as situações reveladas pelos cinco módulos de engajamento, constatou-se que entre os alunos mais engajados nas atividades curriculares com professores: menor era a evasão, menor número deles encontrava-se com o curso em andamento e maior o número de formados. Quando se consideravam as participações em atividades extracurriculares, maior era o tempo desses alunos para concluir o curso, embora na verdade esses estudantes possam estar aprendendo de outra forma, o que pode ser eficaz em termos de habilidades ricas para o desenvolvimento da cidadania e para a vida profissional, possibilidades referendadas pela literatura que trata do tema. Constatou-se também que o engajamento em atividades sociais e de lazer não interfere no desempenho do aluno. Acredita-se que todos estes fatores contribuam para que os graduandos se declarem orgulhosos de pertencerem à Unicamp, inclusive face ao seu prestígio, apesar de manifestarem o desejo de serem mais ouvidos.  É significativo o fato de cerca de 60% do total declarar interesse em continuar a vida acadêmica, embora parte significativa pretender outro tipo de atividade profissional, o que sinaliza para duas importantes missões da Universidade.

Ana Maria revela muito interesse em voltar a aplicar o questionário com vistas a verificar se os aspectos observados continuam válidos e também manifesta a esperança de que a Unicamp volte a participar do consórcio, embora reconheça as suas atuais dificuldades orçamentarias.

A propósito da importância do estudo, ela destaca sua apresentação na Câmara Central de Graduação, por iniciativa da professora Eliana Amaral, o que revela o esforço da pró-reitora de Graduação na renovação dos cursos, repensando os currículos e a forma como a Unicamp encara a graduação. Para ela, iniciativas como essa indicam a relevância de utilizar concretamente o conhecimento adquirido neste tipo de pesquisa institucional, mesmo porque “ela só faz sentido se as informações forem utilizadas de alguma forma”, afirma.

 

 

Imagem de capa JU-online
Em área externa, imagem frontal e de corpo inteiro, cerca de trinta jovens em ampla área sombreada e com piso de concreto intertravado, sendo que alguns estão parados em grupo, conversando, e outros caminhando para frente em direção a câmera fotográfica, ao centro da imagem. Ao fundo, há estruturas metálicas vermelhas, semelhantes a um gol de futebol, com travessão e traves, alinhadas uma à frente da outra, com cerca de três metros de altura por oito metros de largura. Imagem 1 de 1.

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