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Quando a poesia desvela retratos da infância

Retratos da infância na poesia brasileira, de Márcia Cristina Silva, publicado pela Editora da Unicamp no primeiro semestre de 2017, oferece ao leitor a experiência de viajar através dos séculos em meio a uma diversidade de memórias e retratos sobre uma época da vida que é comum a todos, mas que deixa marcas distintas em cada um: a infância. Com a ajuda de uma “câmera fotográfica especial, capaz de avançar e retroceder no tempo com palavras”, os ensaios apresentados simulam um acervo fotográfico, no qual imagens da infância são (re)criadas a partir das palavras de grandes poetas brasileiros.

Para exibir seu acervo, a autora opta por um recurso particular de subdivisão dos capítulos, os quais apresentam diferentes formatos de fotografia e apresentam um ponto central de análise, que vai desde os retratos da vida do poeta e da linguagem escolhida por ele, até a identidade da figura da criança presente nos poemas selecionados, aprofundando em uma visão crítica sobre o que cada um deles tem a nos dizer. O leitor, então, é o personagem central que observa a figura da criança posando em diversas imagens, cada uma de acordo com o poeta em questão. Enquanto que para um a infância é retratada com saudosismo, para outro, ela é representada como sinônimo de passado e morte. E quando só é possível enxergá-la através dos olhos de um adulto, outro retrato é revelado e somos apresentados à ideia de que o passado coexiste com o presente. Assim, o adulto é, ao mesmo tempo, uma criança.

Deste modo, o livro, resultado da tese de doutorado da autora sob a orientação do poeta e professor Antônio Carlos Secchin, apresenta uma desconstrução do mito da infância feliz, expondo ao leitor uma diversidade de facetas desta época, passíveis de construção de inúmeros sentidos, mas veiculadas através de um mesmo meio, a poesia.  Além de fugir da trivialidade de boas lembranças de uma infância estagnada no passado, o que mais chama a atenção no trabalho são as diferentes perspectivas encontradas entre os poetas, o que também se mostrou um dos motivos que instigaram a realização da pesquisa. Ao se deparar com a possibilidade de discernir múltiplas identidades, a autora procurou fazê-la de modo a revelar os diálogos entre poetas, poesias, leitores e épocas que se mostraram parte essencial para a construção da obra.  Nas palavras da autora, “cada poeta, entre eles Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Manoel de Barros e Adélia Prado, constituía um universo diferente, no qual eu adentrava como uma estrangeira, tentando decifrar uma linguagem singular, conhecer um mundo estranho e revelar os retratos da infância por detrás dos versos”.

Sendo assim, após uma reconfortante viagem por tempos remotos, o que fica em primeiro plano na leitura deste livro é que a infância é mais do que um período de desenvolvimento, é um estado de espírito que nunca morre, uma vez que pode sempre ser reconstituído nas palavras de um poeta, não como um tempo, mas como consciência.

Retratos da infância na poesia brasileira será lançado amanhã (14) no Rio de Janeiro.

Mais sobre: www.livrariaeditoraunicamp.com


 

Foto: Reprodução

SERVIÇO

Título: Retratos da infância na poesia brasileira

Autora: Marcia Cristina Silva

Páginas: 248

Preço: R$ 40,00

Editora da Unicamp

http://www.editoraunicamp.com.br/

 

 

Imagem de capa JU-online
Capa do Livro "Retratos da infância da poesia brasileira" | Divulgação Editora Unicamp

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