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Muito além do entretenimento

Bienal de Dança do Sesc, na Unicamp, exibe arte como produção de conhecimento

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A participação da Unicamp na 10ª edição da Bienal do Sesc de Dança, no período de 14 a 24 de setembro em Campinas, vai muito além de uma instituição que abrigará eventos numa vasta programação de espetáculos nacionais e internacionais, coreografias solos ou de grandes grupos, performances e lançamentos de livros. Na condição de única parceira que será palco de apresentações diárias, o momento é especial, não apenas de exibição de diferentes atrações, mas de reflexão sobre a dança como produtora de conhecimento e de investigação científica. Para a diretora de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e professora do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, Verônica Fabrini, a participação da Universidade nessa programação é relevante, pois se trata de reconhecer a arte como campo de produção de conhecimento, algo muito além do entretenimento. “Todos nós vivemos dentro de um corpo e nossa percepção de mundo é mediada por nossos corpos, quer tenhamos consciência disso ou não”. Para ela, a Bienal de Dança vai além de espetáculos de alta qualidade, “por reunir trabalhos instigantes e provocadores, que problematizam o corpo, nos faz perceber os corpos e o próprio corpo de uma nova maneira”, afirma.

Foto: Reprodução
Espetáculo “Sobre Kazuo Ohno” | Foto: Takuya Matsumi

Ela lembra que os cursos de graduação em Dança e Artes Cênicas na Unicamp tiveram início em 1985 e a pós-graduação em Artes em 1991, ou seja, a arte tratada no âmbito da universidade. “Considero que já estava na hora de a Bienal de Dança ocupar esse espaço no ambiente acadêmico. Essa parceria é o reconhecimento da arte [no caso, das artes do corpo] como campo de investigação e de produção de conhecimento. É fundamental ultrapassar os limites entre conhecimento acadêmico e conhecimento artístico, sensível, e avançar na ideia da arte como um saber tão fundamental quanto a ciência”, avalia a diretora de Cultura.

Para Verônica, a opção do Sesc pelo CIS-Guanabara foi muito acertada. Define como um espaço estratégico, tanto pela sua localização e personalidade ­­– afinal, a Estação Guanabara está carregada de memórias da cidade, e por isso não é um espaço impessoal – quanto pela sua função de ser um lugar de troca entre a cidade e a universidade. “Nossos alunos, professores e pesquisadores, pela via da extensão, encontram no CIS-Guanabara um ponto de confluência de saberes, de troca com a cidade. É assim que ambos – cidade e universidade – se vitalizam, buscam soluções, desenham utopias”. A aproximação da universidade com o município, na visão de Verônica, é uma ação que deve ser cada vez mais intensificada. “Acredito que receber a programação intensa da Bienal Internacional de Dança é estreitar esses laços da universidade com a cidade e abrir-se para um abraço maior, com o mundo. Talvez seja essa uma ‘vocação de Estação’, promover trânsitos”.

Foto: Perri
A professora Verônica Fabrini: “É fundamental ultrapassar os limites entre conhecimento acadêmico e conhecimento artístico” | Foto: Juliana Hilal

Para Verônica essa parceria com o Sesc sinaliza a complementaridade que deve existir entre uma universidade pública, do porte da Unicamp, e uma instituição privada de natureza social. “O Sesc é uma instituição nacional poderosa no campo da arte e da cultura, além de ser exemplar quanto ao serviço social. Atua não só como divulgador, mas como formador também. O Sesc e as universidades públicas possuem naturezas distintas e por isso mesmo complementares. Num momento de retração da economia, parcerias e união de forças de resistência são fundamentais”. No entanto, segundo a professora do Instituto de Artes, universidade e Sesc têm papéis específicos. “O Sesc é uma instituição privada que pode estar em diálogo e em colaboração com a universidade pública, desde que saibamos que uma coisa não substitui a outra. Trata-se de uma colaboração, de troca, afinal, muitos artistas, programadores culturais, e outros profissionais que atuam nessas instituições, foram formados por universidades públicas”, destaca Verônica.

Segundo o sociólogo e diretor do CIS-Guanabara, Marcelo Rocco, um dos propósitos da atual gestão é fomentar a ocupação dos espaços universitários por parte da sociedade de Campinas e região. “Queremos que a Unicamp tenha a cara da nossa sociedade, produzindo um sentimento real de pertencimento. O CIS-Guanabara está sediado num ícone do patrimônio histórico campineiro, e há muito orgulho disso na cidade. Queremos ampliar esse sentimento”.

Para Rocco, um evento dessa natureza vai ao encontro da nova política cultural da Universidade. “Diferentemente do passado, hoje estamos ligados a uma Diretoria de Cultura, e esse reagrupamento organizacional nos leva a uma mudança de paradigma. O que está posto, nesta nova realidade, é que nossa missão será a de produzir, fomentar e acolher ações culturais, como a Bienal do Sesc”.

 

Foto: Reprodução
Espetáculo “Gaymada”|  Foto: Mariane Botelho

Rocco afirma que na condição de gestor, sua missão é pelo protagonismo. “Não estamos medindo esforços para transformar este espaço numa referência para a RMC. Para tanto, é preciso pensar a cultura para além da promoção de ações ditas culturais, é preciso pensar o homem contemporâneo e a universalidade dos seus sentidos. Uma casa de cultura deve ser parte da identidade e do patrimônio imaterial de uma sociedade. Nesse sentido, participar da Bienal de Dança é mais que importante, é necessário, pois quanto mais heterogênea for nossa produção e rede de parceiros, mais representada estará a sociedade neste espaço”.

Em relação à participação e reação do público que estará assistindo aos espetáculos, Rocco não esconde a ansiedade. “Esperamos que o público que virá ao CIS para prestigiar o evento saia satisfeito, e certamente isso acontecerá, principalmente pela riqueza das produções programadas. Mas desejamos que os espectadores se encantem também com a atmosfera deste lugar, com sua arquitetura, e que possam reviver os tempos de glória da Estação Guanabara, tão importante para a cidade no ciclo da economia cafeeira, e que agora reassume esse protagonismo no campo da produção cultural”.

 

Foto: Perri
Marcelo Rocco, diretor do CIS-Guanabara: “Queremos que a Unicamp tenha a cara da nossa sociedade, produzindo um sentimento real de pertencimento”

Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo, o evento tem como proposição expandir as relações com a dança contemporânea e as reflexões que ela pode suscitar. No campo do ensino e da reflexão acadêmica, considera a Unicamp como o berço da mais tradicional graduação em Dança do Estado de São Paulo. Não por acaso, dentre todos os parceiros, a Unicamp, no campus em Barão Geraldo, e, principalmente no CIS-Guanabara, será diariamente palco de espetáculos de dança, instalação, conversas e lançamentos de livros. Ressalta também a importância dessa parceria, não apenas com a Unicamp, mas com órgãos públicos e privados de grande relevância na ocupação de diferentes espaços no contexto da cidade. “As ocupações pelo mobiliário urbano insinuam o convite, e sinalizam a presença da Bienal, tornando-se uma marca registrada do acontecimento no corpo da cidade”, afirma Miranda.

 

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Espetáculo “Protesto” – Foto: Paulo César Lima

O gerente do Sesc-Campinas, Hideki M. Yoshimoto, ressalta a importância da parceria da Unicamp nessa décima edição do evento. “Com atividades que ocupam a cidade de Campinas, a Bienal vale-se não só da unidade do Sesc para receber a programação, mas também de outros equipamentos culturais, frutos de significativas parcerias estabelecidas. Neste cenário, encontramos, além da Casa do Lago e do Ciclo Básico, no campus universitário, o CIS Guanabara, um importante espaço na cidade, gerido por uma equipe hábil e capacitada, cujo resgate histórico de uma antiga estação ferroviária ampliou a oferta cultural na cidade”. Fabrício Floro, um dos curadores da Bienal, afirma que a ocupação de espaços acadêmicos enaltece uma forma de concretizar esse envolvimento com a Universidade. O CIS-Guanabara, segundo ele, é um importante equipamento cultural de Campinas e a opção pela realização da instalação Campo Antípoda, que reúne também alguns espetáculos, não por acaso recaiu sobre a estação. “As características estruturais e arquitetônicas do edifício dialogam perfeitamente com a proposta essa instalação”, avalia Floro. Para a psicóloga e produtora cultural Flávia Moraes Salles, sediar pela segunda vez uma programação nobre e expressiva, agora de caráter internacional, legitima os esforços do projeto CIS-Guanabara de consolidar-se junto à cidade de Campinas como espaço privilegiado da Unicamp de diálogos, trocas e interação cultural. 

Programação

Veja a programação completa do evento

Veja a programação detalhada nos diferentes espaços da Unicamp
 

 

 

 

Imagem de capa JU-online
Espetáculo “Dança Doente” | Foto: Mauricio Pkmon

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