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‘Sacundim’ no recital de mestrado

Trabalho teve como tema a improvisação vocal na música brasileira

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Foto: ReproduçãoA cantora Martina Marana, formada em linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, apresentou no último dia 24 um recital como parte da defesa de sua dissertação de mestrado – desenvolvida no Instituto de Artes (IA) –, interpretando canções próprias e de Filó Machado, Gilberto Gil e Jorge Ben, além de uma paródia de “Take Five”, em que cantou, com humor, os desafios enfrentados durante o período da pesquisa. Na dissertação intitulada "Sacundim: o scat singing de Filó Machado na interpretação de Take Five", sob a orientação da professora Regina Machado, a pesquisadora analisou a improvisação vocal do músico paulista Filó Machado, e identificou os elementos usados por ele na construção de um estilo que se relaciona com a música brasileira.

Pouca gente sabe o que é, mas você provavelmente já ouviu um scat singing, conhecido pela improvisação de sílabas e palavras, sem qualquer sentido, no meio de uma música – e que no Brasil é também chamado de “sacundim”. “Take Five”, composta na década de 1950, por Paul Desmond, famoso saxofonista norte-americano, foi regravada por Filó Machado, compositor e multi-instrumentista, natural de Ribeirão Preto, no CD “Cantando um Samba”, de 1999.

No estudo, a pesquisadora descreve que as silabações e acentuações do intérprete têm características musicais e rítmicas que lembram a levada do samba, ou o som de um tamborim. De acordo com Martina, Filó Machado imprime em “Take Five” muito das características do português, o que diferencia a improvisação dele do tradicional scat singing americano.

Foto: Perri
Martina Marana, autora da dissertação: para a cantora, Filó Machado estrutura o scat como se estivesse contando uma história

A técnica tem sua criação creditada a Louis Armstrong (1901-1971). Muito utilizada por cantores de jazz, se tornou conhecida no Brasil com a difusão da música norte-americana no país, a partir da década de 1920.

Martina afirma que esse tipo de improvisação pode ser utilizado de diversas maneiras dentro da música. “O scat tem função instrumental. Pode ser usado tanto numa improvisação quanto na exposição de uma música que já existe”. No caso de Filó, Martina descreve que o músico estrutura o scat como se estivesse contando uma história. No trabalho, a autora também defende que, mesmo sem ter palavras ou conteúdo lexical, ele carrega uma mensagem e um significado, ainda que o conteúdo dependa de cada ouvinte.

O trabalho se desenvolveu a partir do interesse de Martina pelo estudo da improvisação vocal. Ela já conhecia o cantor Filó Machado por meio do CD “Jazz de Senzala” (2004), mas foi nas aulas do Conservatório Musical de Tatuí, em que teve mais contato com a improvisação. De volta a Campinas, Martina juntou a vontade de continuar os estudos do scat singing na música brasileira e, diante da carência de pesquisas na área, propôs o projeto que teve duração de dois anos e meio.

Ela acredita que o estudo possa auxiliar novos cantores. “Com a difusão das escolas de canto, essa prática está cada vez mais se difundindo. Então, está surgindo a necessidade de se ter um direcionamento, ou mesmo um material para entender melhor esse tipo de improvisação”, concluiu.

Veja o vídeo do recital de Martina Marana, que foi acompanhada pelos músicos Geremia Tiófilo (saxofone/flauta), Ramon del Pino (baixo) e João Casimiro (bateria). A apresentação ocorreu no último dia 24, na Casa do Lago. O vídeo foi feito pela repórter Ana Paula Palazi, com edição de Luis Paulo Silva.

Imagem de capa JU-online
Martina Marana, autora da dissertação | Foto: Antoninho Perri

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