Resposta para diagnóstico e tratamento de infecções genitais femininas pode estar nas vias lipídicas

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O biólogo José Marcos Sanches, autor do estudo
O biólogo José Marcos Sanches, autor do estudo

Estudo de mestrado do biólogo José Marcos Sanches, desenvolvido dentro do Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), identificou diferenças bioquímicas de duas das principais infecções genitais femininas – a candidíase vulvovaginal e a vaginose citolítica. “Estas infecções eram diferenciadas anteriormente apenas por bacterioscopia vaginal (morfotipos bacterianos). Agora, por meio da técnica de espectrometria de massas, este estudo possibilitou apontar que a resposta para essa diferença pode estar relacionada com as vias lipídicas vaginais e dos ácidos orgânicos", constatou o autor.   

Segundo Paulo Giraldo, professor titular da FCM, ginecologista no Hospital da Mulher – Caism e orientador desse estudo, o reconhecimento da similaridade entre essas infecções era de fundamental importância para a comunidade médica e científica, uma vez que os sintomas e as queixas das pacientes são bastante semelhantes, o que vinha dificultando tanto o diagnóstico como o tratamento de ambas. 

Esses resultados obtidos no estudo acabam de gerar um artigo científico publicado na Plos One, revista de alto impacto e disponível exclusivamente na versão on-line. No trabalho, aborda-se a lipidômica vaginal (identificação qualitativa dos lipídios na vagina) em 24 mulheres (com essas duas doenças e em mulheres saudáveis) atendidas no Ambulatório de Infecções Genitais do Hospital da Mulher – Caism da Unicamp.

As mulheres com essas doenças têm em comum um histórico de corrimentos vaginais mal diagnosticados e por isso acabam recebendo um tratamento equivocado. As mesmas condições clínicas podem estar presentes nas duas infecções, sobretudo em mulheres com candidíase vulvovaginal de repetição. “Apesar da semelhança clínica, muitas mulheres não têm candidíase vulvovaginal e sim vaginose citolítica, mostrando uma acidez expressiva em relação à acidez tida como normal da vagina”, afirmou o ginecologista.

O docente da FCM, Paulo César Giraldo
O docente da FCM, Paulo César Giraldo

José Marcos revelou na investigação a presença de potenciais lipídios e ácidos orgânicos presentes no conteúdo vaginal através da espectrometria de massa, por ser esta uma técnica de análise instrumental em química analítica, na qual se pode visualizar com grande precisão o universo molecular dos sistemas biológicos. Este tipo de estudo nunca havia sido feito no conteúdo vaginal com esse propósito.

O artigo indicou os principais ácidos orgânicos relacionados à fisiopatologia dessas duas condições. “Observamos que, na candidíase, há ácidos mais relacionados ao estresse oxidativo (que é o descompasso entre a produção e a eliminação de espécies reativas de oxigênio) e à apoptose (morte celular programada)”, sublinhou o pesquisador.

Já na vaginose citolítica, por conta do aumento do número de lactobacilos, José Marcos verificou a presença de ácidos orgânicos ligados à proliferação das bactérias que acidificam o meio vaginal, causando descamação, destruição da membrana celular e liberação de substâncias que promovem irritação vaginal, um traço que saltou aos olhos nas duas patologias.

Até pouco tempo, a literatura não tinha quase trabalhos sobre o ecossistema vaginal que diferenciasse a candidíase da vaginose citolítica. Mas, para Paulo Giraldo, o equívoco no diagnóstico passa por dois aspectos fundamentais. Um é que, como a mulher trata o problema de modo simplista, acaba não fazendo as queixas que deveriam ser feitas para orientar o diagnóstico médico. A consequência é que “a paciente é encaminhada de um médico a outro sem ter um diagnóstico correto e acaba sofrendo transtornos emocionais (por não descobrir o problema), orgânicos e financeiros”.

Outro aspecto, mencionou ele, é que, nesse ínterim, as mulheres vão criando uma maior resistência aos fungos, sobretudo à medida que utilizam antifúngicos inadvertidamente. “Esses medicamentos passam a não agir como o esperado, a exemplo do que ocorre com os antibióticos. E o aumento de cepas de fungos resistentes eleva as taxas de insucesso terapêutico.”

O docente recordou que, quando apareceram no mercado os antifúngicos do grupo dos “azois”, eles eram muito efetivos no controle do crescimento fúngico e que, agora, já existe muita resistência clínica, pois eles contam com diversos mecanismos para driblar a ação das drogas.

Microscópio utilizado no estudo
Microscópio utilizado no estudo para caracterização microbiológica

Prêmio
O trabalho de José Marcos, além de obter publicação na Plos One, ganhou um prêmio no Congresso Português de Ginecologia, realizado em Vilamoura, Portugal, considerado o melhor do evento, dentre mais de 100 trabalhos científicos que concorreram a essa distinção.

Paulo Giraldo afirmou que essa investigação – realizada no Ambulatório de Infecções Genitais Femininas (AIGF) do Caism, em conjunto com o Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do Instituto de Química (IQ) da Unicamp – foi importante porque a maioria dos estudos sobre infecções genitais não têm como foco a vaginose citolítica e porque inovou com a ideia de empregar a espectrometria de massas com cromatografia líquida para identificar os principais lipídios e ácidos orgânicos vaginais.

No estudo do ecossistema vaginal, em geral se usam técnicas de identificação dos micro-organismos residentes (identificação de fungos e bactérias através dos seus diferentes morfotipos ou do estudo do microbioma), porém são poucos os grupos de pesquisadores que se dedicam a estudar a parte bioquímica vaginal ou as características físicas da cavidade vaginal (pH, umidade, temperatura).

Na visão de Paulo Giraldo, esse trabalho agregou tecnologia de ponta a um assunto cuja relevância clínica é inestimável e ficou claro também que, apesar desta pesquisa ser importante e audaciosa, há lacunas a serem preenchidas. “Mesmo assim, abrimos novas perspectivas no estudo do ecossistema vaginal, em particular da vaginose citolítica, que pode ser um marco no estudo das infecções genitais femininas e na ginecologia.”

A dissertação de José Marcos integra uma linha de pesquisa mais ampla sobre as infecções genitais, na busca, não só do entendimento de doenças que afligem milhares de mulheres no mundo, mas também das novas opções de tratamento, fugindo às abordagens convencionais calcadas única e exclusivamente no uso indiscriminado de antifúngicos e de antibióticos.

Rose Luce, médica responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais
Rose Luce, médica responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais

“A publicação do artigo na Plos One e o prêmio internacional certamente resultaram da minha passagem pela Unicamp e do trabalho que vem sendo feito na área de infecções nesta instituição. É muito gratificante o reconhecimento profissional para quem está iniciando suas atividades científicas e que deseja seguir a carreira de pesquisador”, frisou o biólogo.

O grupo de pesquisa coordenado pelo professor Paulo Giraldo ainda conta com outras duas linhas de pesquisa na Divisão de Ginecologia do Caism: uma sobre higiene genital feminina, para prevenir infecções, e outra sobre reeducação da musculatura do assoalho pélvico, para aumentar a oxigenação tecidual do arcabouço do canal vaginal. Essas alternativas, acredita ele, são fundamentais para evitar a medicalização quando se trata de infecções genitais.

A investigação de José Marcos possibilitou uma nova visão das infecções genitais femininas, tendo como ponto de partida a verificação dos principais lipídios que podem diferenciar a candidíase vulvovaginal da vaginose citolítica. Contou ainda com a colaboração da médica Rose Amaral, hoje responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais Femininas do Caism, onde é realizado atendimento às pacientes com infecções genitais às terças e sextas-feiras à tarde, e também da farmacêutica Michelle Discacciati, ambas doutoras pelo Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da FCM.

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Microscópio utilizado no estudo para caracterização microbiológica

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