OPINIÃO PÚBLICA
Maio de 2001                                                Vol.VII, nº1

SUMÁRIO


A Utilização de Métodos Qualitativos na Ciência Política e no Marketing Político
Luciana Veiga
Sônia Maria Guedes Gondim
Pág.
Apatia e Alheamento Político numa Sociedade Paralisada:
os limites da nova democracia chilena 
Edward C. Epstein
 

16 
Confiança Interpessoal e Comportamento Político: 
microfundamentos da teoria do capital social na América Latina 
Lúcio R. Rennó

 
33
O Papel das Pesquisas de Opinião Pública na Consolidação da Democracia: 
a experiência latino-americana 
Fabián Echegaray
 

60 
A Formação do Capital Social na América Central: 
violência política, repressão, dor e perda 
John A. Booth
Patricia Bayer Richard
 

75 
TENDÊNCIAS
Encarte de Dados de Opinião Pública - Ano 7, nº1
 

101 
Resumos/ Abstracts
139 

 
Opinião Pública
Campinas
Vol. VII, nº1
P.1-141
Maio 2001
ISSN 0104-6276

 
Página Principal Revista
Página Principal
Equipe
Banco de Dados
Nacionais e Internacionais

A Utilização de Métodos Qualitativos na Ciência Política e no Marketing Político
Luciana Veiga
Sônia Maria Guedes Gondim

Resumo: Apesar do debate sobre os vetores da relação entre confiança interpessoal e democracia, está claro que a confiança interpessoal é a variável central no estudo da cultura política e do capital social. Este artigo examina alguns dos pressupostos básicos das teorias da cultura política e do capital social sobre confiança interpessoal, utilizando dados de pesquisas na América Latina. Em primeiro lugar, analisa quais são os tipos de comportamento político mais fortemente afetados pela confiança interpessoal e em que países essa confiança se correlaciona com mais freqüência com outras medidas de comportamento político que se espera teoricamente que se correlacionem com ela. Em segundo lugar, avalia quais são as variáveis que estimulam a existência da confiança interpessoal naqueles países em que a confiança não exerce uma influência significativa em outras formas de comportamento político. Portanto, a questão que este artigo enfrenta é se a confiança inter-pessoal é importante como elemento definidor do comportamento político, e onde ela é, por que alguns indivíduos mostram níveis mais altos de confiança interpessoal do que outros.

Palavras-chave: cultura cívica, confiança interpessoal, comportamento político, América Latina

Abstract: Despite the debate about the vectors of the relation between interpersonal trust and democracy, it is clear that interpersonal trust is a central variable in the study of political culture and social capital. This article tests some of the basic assumptions of political culture and social capital debates about interpersonal trust using survey data from Latin America. First it analyzes what are the kinds of political behavior that are more strongly affected by interpersonal trust and in what countries does interpersonal trust correlate with more often with other measures of political behavior that it is theoretically expected to relate with. Second, the article evaluates what are the variables that stimulate the existence of interpersonal trust in those countries where trust does play a significant role in affecting other forms of political behavior.  Hence, the puzzle that this article addresses is if interpersonal trust matters as a defining element of political behavior, and where it does, why do some individuals show higher levels of interpersonal trust than others do.

Key words: civic culture, interpersonal trust, political behavior, Latin America


Apatia e Alheamento Político numa Sociedade Paralisada: os limites da nova democracia chilena
Edward C. Epstein

Resumo: A noção de “sociedade paralisada” usada aqui para descrever a democracia chilena contemporânea pretende sugerir um determinado sistema político em que a probabilidade de mudança significativa resultante de eleições e negociações foi reduzida a um mínimo. Tendo em vista os dispositivos políticos restritivos impostos pelo regime militar de Pinochet à nova democracia, tais como a figura dos senadores nomeados e a lei eleitoral “binomial” que aumenta de modo muito desproporcional a representação do maior grupo minoritário pode-se afirmar que o poder político estava destinado a ser dividido quase igualmente entre as forças de centro e centro-esquerda agrupadas na coalizão da Concertación e seus oponentes da direita, num aparente desrespeito à vontade dos eleitores.  A questão central deste artigo se relaciona com os efeitos prováveis que este imobilismo político pode ter sobre os chilenos à medida que eles se conscientizem de que as forças políticas que representam uma maioria popular têm capacidade limitada para realizar as mudanças desejadas.  O tipo de efeito sugerido aqui se concentra na apatia e no alheamento político existentes.

Palavras-chave: democratização, apatia política, imobilismo político, Chile

Abstract: The notion of a “stalemate society” used here to describe contemporary Chilean democracy is meant to suggest a particular political system where the likelihood of significant change resulting through elections and bargaining has been reduced to a minimum. Given restrictive political provisions imposed by the Pinochet military regime upon the new democracy such as the constitutionally-sanctioned appointed Institutional Senators and the “binomial” election law which dramatically over-represents the largest minority group one can argue that political power was meant to be almost equally divided between those center and center-left forces grouped in the Concertación coalition and those opposing them on the political right, in seeming disregard of what the voters wanted.  What is raised as the central question for examination in this essay relates to the likely effects such entrenched political immobilism may have had on Chileans as they became aware that the political forces representing a popular majority had only a limited ability to achieve the changes sought. The type of effect suggested here focuses on existing political apathy and alienation.

Key words: democratization, political apathy, political immobilism, Chile


Confiança Interpessoal e Comportamento Político: microfundamentos da teoria do capital social na América Latina
Lúcio R. Rennó

Resumo: Apesar do debate sobre os vetores da relação entre confiança interpessoal e democracia, está claro que a confiança interpessoal é a variável central no estudo da cultura política e do capital social. Este artigo examina alguns dos pressupostos básicos das teorias da cultura política e do capital social sobre confiança interpessoal, utilizando dados de pesquisas na América Latina. Em primeiro lugar, analisa quais são os tipos de comportamento político mais fortemente afetados pela confiança interpessoal e em que países essa confiança se correlaciona com mais freqüência com outras medidas de comportamento político que se espera teoricamente que se correlacionem com ela. Em segundo lugar, avalia quais são as variáveis que estimulam a existência da confiança interpessoal naqueles países em que a confiança não exerce uma influência significativa em outras formas de comportamento político. Portanto, a questão que este artigo enfrenta é se a confiança inter-pessoal é importante como elemento definidor do comportamento político, e onde ela é, por que alguns indivíduos mostram níveis mais altos de confiança interpessoal do que outros.

Palavras-chave: cultura cívica, confiança interpessoal, comportamento político, América Latina

Abstract: Despite the debate about the vectors of the relation between interpersonal trust and democracy, it is clear that interpersonal trust is a central variable in the study of political culture and social capital. This article tests some of the basic assumptions of political culture and social capital debates about interpersonal trust using survey data from Latin America. First it analyzes what are the kinds of political behavior that are more strongly affected by interpersonal trust and in what countries does interpersonal trust correlate with more often with other measures of political behavior that it is theoretically expected to relate with. Second, the article evaluates what are the variables that stimulate the existence of interpersonal trust in those countries where trust does play a significant role in affecting other forms of political behavior.  Hence, the puzzle that this article addresses is if interpersonal trust matters as a defining element of political behavior, and where it does, why do some individuals show higher levels of interpersonal trust than others do.

Key words: civic culture, interpersonal trust, political behavior, Latin America
 


O Papel das Pesquisas de Opinião Pública na Consolidação da Democracia: a experiência latino-americana
Fabián Echegaray

Resumo: Desde inícios dos anos 80, as pesquisas políticas e de opinião pública na América Latina têm se constituído num evento central ao processo de democratização. Quase todos os dias, os principais jornais e redes de TV da cada país nos informam sobre estudos focados sobre assuntos vinculados ao desenvolvimento político das novas democracias. Grande parte do que conhecemos sobre essas instituições é produto de pesquisas. Mas, qual têm sido as conseqüências disso? Este artigo mostra que essas pesquisas definem interações centrais entre elites políticas e cidadania nesses países, e que têm um papel central no seus processos de democratização.

Palavras-chave: opinião pública, pesquisas de opinião, processo de democratização, América Latina

Abstract: Since the beginning of the eighties the political surveys in Latin America have a central role in the process of democratization. Almost everyday the main newspapers and tv broadcastings of each country inform us the results of studies that focuses on the political development of the new democracies. Most of what we know about these democracies is due to these studies. But what are the consequences of this role? This article argues that the public opinion surveys define central interactions between the political elites and the citizenship in these countries, and that they have a central role in their democratization processes.

Key-words: public opinion, survey research, democratization process, Latin America
 


A Formação do Capital Social na América Central: violência política, repressão, dor e perda
John A. Booth
Patricia Bayer Richard

Resumo: A repressão do Estado procura dissuadir os cidadãos de se oporem ao regime e seus programas e fazer com que a sociedade civil e o capital social sirvam aos seus propósitos. Essa repressão pode ir de formas leves de coerção e intimidação ao extremo de infligir dor física aos cidadãos. Os insurgentes também podem reprimir e infligir dor aos cidadãos e assim moldar seus comportamentos e atitudes. Nas décadas de 1980 e 1990, os Estados da América Central e seus oponentes empregaram níveis muito variados de repressão e violência política. No interior dessas nações, os indivíduos perceberam de modo diferenciado a violência e sofreram graus variados de dor e perda. Utilizando dados de surveys dos anos 90 para seis países centro-americanos a fm de examinar os efeitos sobre o capital social da repressão, da violência política percebida e da dor e perda resultantes, concluímos que a repressão sistêmica e a percepção da violência política afetam significativamente a sociedade civil (envolvimento em grupo) e variedades do capital social (participação política, normas democráticas e antidemocráticas, alienação das eleições e disposição para utilizar táticas de confrontação política). Os efeitos da dor e da perda são menos claros. Embora a repressão busque refrear a participação e moldar normas de submissão, seus efeitos na América Central são complexos e, às vezes, inconsistentes com esses objetivos porque ela promove um nível de organização comunal cada vez maior e certas formas confrontadoras de capital social.

Palavras-chave: democratização, violência política, ativismo societal, América Central

Abstract: State repression seeks to dissuade citizens from opposing the regime and its programs, and to bend civil society and social capital to regime purposes. Such repression may range from lesser forms of coercion and intimidation to the extreme infliction of physical pain upon citizens. Insurgents, too, may repress and inflict pain upon citizens and thus shape their behavior and attitudes. Central American states and their opponents in the 1980s and early 1990s employed widely varying levels of repression and political violence. Individuals within these nations differentially perceived violence and experienced varying levels of pain and loss stemming from it. Using 1990s survey data from six Central American nations to examine the effects of repression, perceived political violence, and resultant pain and loss upon social capital, we find that repression at the systemic level and the perception of political violence significantly affect civil society (group involvement) and varieties of social capital (political participation, democratic and antidemocratic norms, alienation from elections, and willingness to employ confrontational political tactics). The effects of pain and loss are less clear. While repression seeks to constrain participation and mold compliant norms, its effects in Central America are complex and sometimes inconsistent with such goals because it promotes increased communal level organization and certain confrontational forms of social capital.

Key-words: democratization, political violence, civil society activism, Central America